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A re-reinvenção do Pró-Álcool: propaganda ou realidade?

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Durante muito tempo o dito popular A propaganda é a alma do negócio era visto com bons olhos apenas pelos comerciantes e grandes anunciantes, que, por sua vez, investiam muito dinheiro em inserções publicitárias com o intuito de atingir o maior número de pessoas possível e, consequentemente, alavancar as vendas de produtos e serviços. De uns tempos para cá, os órgãos governamentais perceberam o poder de penetração dos anúncios na camada mais humilde da população e resolveram também adotar a máxima em suas ações. Quanto mais convincente, bonita e simpática, maior é a chance de vender uma informação.

As mensagens dos anúncios vendem o agora, o atual, e muitas vezes esquecem de contar uma coisa muito importante: a realidade. Foi assim com a campanha publicitária que pretendia vender a nossa autossuficiência em petróleo. Posar com as mãos cheias de óleo não foi uma exclusividade do ex-presidente Lula. Aconteceu, também, durante os anos 1950, na campanha O petróleo é nosso, e, como da primeira vez, ficou provado que não somos tão autossuficientes.

No final de 2012, uma série de anúncios foi veiculada em emissoras de rádio e televisão com o intuito de vender o etanol como um combustível viável e brasileiro. Até aí, nenhuma novidade. É inegável que a produção de combustível a partir da cana-de-açúcar demonstra que, quando existe investimento, os cientistas brasileiros são altamente competitivos com os especialistas de outros países, inclusive com os dos EUA.

Pena que a publicidade veiculada não informou, e compete a quem tem mais idade lembrar, que o Pró-Álcool não é uma novidade. Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 o governo federal investiu muito para fazer pegar o programa, mas que, infelizmente, por falta de avanços tecnológicos da indústria automobilística brasileira, não pegou.

Não vou culpar as montadoras de automóveis, e não tenho o objetivo de discutir as condições de trabalho no plantio e colheita da cana. É importante ressaltar que muitas cidades, inclusive do interior paulista, acreditaram na iniciativa federal e se desenvolveram graças à instalação de usinas sucroalcooleiras e que, com o passar dos anos, viram sua economia naufragar por conta da falência do programa lançado pelo governo brasileiro.

Uma pergunta vem à cabeça e não consigo deixar de fazê-la: será que, desta vez, o Pró-Etanol vai pegar? Funcionará adequadamente, ou essa é mais uma propaganda? Não estou querendo brigar com os publicitários e demais profissionais atrelados à área das comunicações sociais, mesmo porque entendo a importância da divulgação das ações, sejam elas governamentais ou não. Só é preciso ter responsabilidade com as informações, para não levarmos as pessoas a erro.

* Vitor Sapienza, deputado estadual (PPS) e economista, é presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação da Assembleia Legislativa de São Paulo. -  www.vitorsapienza.com.br