Começam a surgir contestações às grandes obras que precisam ser iniciadas sem demora com vistas às Olimpíadas de 2016. Não podemos correr riscos de um grande vexame. E forças do ressentimento eleitoral, da irresponsabilidade em relação ao interesse público, ameaçam tumultuar o processo de algumas delas.
É natural que se tenha objeções a uma ou outra coisa, afinal, estamos tratando de um projeto que supera em muito o evento e mudará a cidade, com ousadia e coragem. Mas, entre discordar e boicotar, existe uma distância política, ética e até moral muito grande.
Vivemos um momento em que as preocupações com a crise na economia, uma realidade da qual não se duvida, já são suficientes para colocar em risco a sustentabilidade do processo de desenvolvimento econômico e social que atravessamos. Não pode ser ignorado o fato de que, ao sediar eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, os países assumem responsabilidades diante de um pacote de exigências que levam o nome sugestivo de “caderno de encargos”. É como se dessem uma palavra de honra de que as exigências mínimas seriam atendidas. Não se pode, por medidas judiciais ou administrativas, no caso de meio ambiente, travar obras que tem um cronograma a ser atendido.
No caso do Rio, o prefeito Eduardo Paes deveria falar numa rede municipal de rádio e TV, e publicar um aviso em jornais, todas as semanas, nem que fosse por três minutos e vinte linhas, dando conta do que está sendo feito e das dificuldades surgidas. A sociedade não pode ser surpreendida com uma eventual substituição do local destes eventos. E, no caso da Copa, em muitos estados as obras parecem que estão limitadas aos estádios, exceto o Rio e Belo Horizonte.
No entanto, as responsabilidades ultrapassam as obras. Vale também para iniciativas fortes no sentido da segurança pública, da recolha de drogados das ruas, da iluminação dos principais logradouros públicos e do policiamento ostensivo na rota dos atletas e espectadores. Nossas cidades convivem com este tipo de problema de maneira chocante. Compromete ou anula qualquer grande projeto.
A suposta defesa dos recursos públicos pode e deve ser feita nos foros apropriados, como controle de custos e especificações, mas jamais através do embargo de obras, que, é sempre bom repetir, não podem nem devem sofrer nenhum atraso, sob risco de colocar o Brasil em situação desconfortável diante da comunidade internacional.
Atos que alimentam a descrença na solidez de nossa economia não têm faltado, como risco de inflação, de fuga de capitais, de ausência de investidores, baixa remuneração de investimentos e intervenção nos contratos de concessão.
Isso para não falar na absurda perda dos recursos provenientes do petróleo, já comprometidos.
*Aristóteles Drummond é jornalista. - [email protected]