Vários analistas econômicos têm afirmado que, se o PIB voltar a crescer no ano que vem, será necessário aumentar a taxa básica de juros para segurar a inflação dentro do intervalo da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (IPCA anual até 6,5%), considerando que outras principais variáveis macroeconômicas, como dólar e taxa de investimento, sejam mantidas nos níveis atuais.
É bastante provável que estes analistas estejam certos. Com a atual taxa de investimento em torno de 19% do PIB e do dólar em torno de R$ 2,00, se o PIB subisse para algo como 3,5% ao ano, a inflação poderia superar o teto da meta, de 6,5%, e então os juros precisariam aumentar. Isto ocorre porque na economia as variáveis macroeconômicas estão inter-relacionadas. Quando mexemos em uma, as demais serão influenciadas. Pensando nisto, num mero exercício de ficção, montei o quadro abaixo, que mostra uma combinação de possíveis variações do PIB, inflação, juros reais, dólar e taxa de investimento. Embora os números colocados sejam fictícios, eles guardam alguma relação com a realidade pretérita.
A primeira linha do quadro mostra a situação que deve ocorrer em 2012. As linhas seguintes mostram possíveis combinações das demais variáveis, no caso de mantermos o crescimento médio do PIB em torno de 3,5% e 5,0% ao ano, num período prolongado.
Vemos na linha do cenário 1 que, se o crescimento do PIB girasse em torno de 3,5%, a taxa básica real de juros permanecesse na ordem de 2,0% ao ano, o dólar continuasse próximo a R$ 2,00 e a taxa de investimentos da economia não ultrapassasse os atuais 19% do PIB, seria necessário aceitarmos uma inflação anual igual ou maior que 6,5%.
No cenário 2, com crescimento do PIB de 3,5%, inflação de 4,5%, taxa de câmbio de R$/US$ = 2,00 e taxa de investimento de 19%, os juros reais precisariam ser alçados à casa dos 4,0%.
Nos cenários 3 e 4, com crescimento do PIB, juros reais e inflação mantidos na casa dos 3,5%, 2,0% e 4,5%, respectivamente, vemos que, se a taxa de investimentos continuar em torno de 19%, o real teria que ser valorizado para segurar a inflação, e se o dólar ficar em R$ 2,00 a taxa de investimentos terá que subir para o patamar de 22%.
O cenário 5, que parece ser o desejo da maioria dos analistas econômicos, e que apresenta um crescimento do PIB de 5,0%, taxa real de juros de 2%, inflação de 4,5% e dólar valendo R$2,00, somente seria possível se a taxa de investimentos subisse para 25% do PIB.
Claro que as combinações mostradas foram elaboradas sem uso de nenhuma ferramenta econométrica (usei apenas o feeling pessoal). De qualquer forma, vemos que a variável fundamental para escapar da armadilha que impede o aumento do PIB por um período prolongado é a taxa de investimento. Sem aumentarmos a taxa de investimento, não há como crescer de forma sustentada.
Ao manter a taxa básica anual real de juros em torno 2,0%, ainda que com uma inflação mais alta, sem mexer muito no dólar e com crescimento do PIB em torno de 3,5%, é possível elevar a taxa de investimentos. Na medida em que cai o custo relativo do financiamento da dívida pública e em que os rendimentos da aplicação em títulos públicos percam a atratividade, o capital público e privado tende a migrar para os investimentos.
Mesmo que o esforço por manterem baixas as taxas de juros exija algum nível de artificialidade, e, portanto, algum risco de desequilíbrio, é fundamental aproveitar o atual momento de crise na economia internacional para escapar da armadilha do baixo crescimento. É um situação em que a relação risco-benefício vale a pena.
* Alcides Leite, economista, é professor da Trevisan Escola de Negócios.