As análises dos resultados eleitorais no Brasil, nas últimas duas décadas, evidenciam, em geral, que os eleitores dos municípios são pouco influenciados pela participação das grandes lideranças nacionais nas eleições locais. Isso decorre das peculiaridades das eleições nos municípios, que possuem características, interesses e problemas locais específicos, que na sua maioria essas lideranças desconhecem.
Apesar desse fenômeno, observa-se, nesta reta final das campanhas, um crescente envolvimento das principais lideranças políticas do país nas eleições municipais, em particular, nas capitais dos estados. Essa participação tem como principal fator motivador, além de marcar presença e se fazer mais conhecido em nível nacional, o fortalecimento dos partidos políticos aos quais esses políticos estão filiados. Destacam-se, nesse cenário aqueles políticos com pretensões eleitorais em 2014, como é o caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Verifica-se que essas lideranças, em particular Aécio Neves e Eduardo Campos, além de participarem de comícios nas cidades onde os seus candidatos têm chances de vencer, vêm fazendo centenas de gravações para os candidatos que apoiam. O senador Aécio Neves, entre outros, participou de comícios em Salvador (onde apoia o democrata ACM Neto), Vitória, Vila Velha, Teresina, Campina Grande, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Pelotas e Manaus.
O governador Eduardo Campos (PSB), no esforço de fortalecer o seu partido, adota essa mesma estratégia, em que pese negar que é candidato à Presidência em 2014. A sua agenda de viagens revela que ele já participou (ou ainda vai participar) de comícios em Natal, João Pessoa, São Luís, Campinas, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Velho.
A presidente Dilma Rousseff, apesar de sua importância no cenário político nacional, era a única que até recentemente não havia se envolvido fisicamente nas campanhas municipais. Recorde-se que ela, apesar dos insistentes pedidos de apoio dos candidatos do PT e dos partidos aliados, notadamente dos candidatos das grandes cidades brasileiras, procurou manter-se equidistante, evitando participar de comícios, postura que também recomendou aos seus subordinados, ao pedir que evitassem fazer campanha em horário de expediente.
A intensidade das pressões políticas das lideranças do seu partido, em particular do ex-presidente Lula, foi aumentando, baseada na importância estratégica da eleição do prefeito de São Paulo para o PT e para a eleição presidencial de 2014, o que a obrigou a rever sua postura. Ao decidir interferir na campanha de São Paulo e ao nomear a senadora Marta Suplicy (PT) para o Ministério da Cultura, quis mostrar seu apoio a Fernando Haddad. O passo seguinte foi participar do comício do seu candidato, na última terça feira, na Zona Leste de São Paulo.
Conforme mostram as pesquisas eleitorais mais recentes, o candidato Fernando Haddad encontra-se numa posição incômoda, visto que disputa com José Serra (PSDB) para poder chegar ao segundo turno da eleição. O preço para o PT, e em particular para Lula, será muito elevado caso o seu candidato não chegue ao segundo turno. Vale lembrar, por sua vez, que apenas um incidente grave de percurso na campanha do candidato Celso Russomanno (PRB) poderá tirá-lo do próximo turno da eleição em São Paulo.
É inegável, no atual contexto, diante da enorme popularidade que a Dilma Rousseff goza junto à população do país, que a participação da presidente nos comícios dos candidatos do PT ou de partidos aliados, especialmente no segundo turno das eleições, será um apoio importante. A questão que fica em aberto é se essa participação será um fator decisivo para alterar os rumos das eleições nos municípios onde os seus candidatos estão em desvantagens.
*José Matias-Pereira, economista e advogado, é doutor em ciência política pela Universidade Complutense de Madri (UCM-Espanha).