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Amadorismo puro 

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O ônibus com turistas para na praça de uma grande cidade brasileira e o guia, responsável pela condução do grupo, faz das tripas coração para fugir do assédio dos camelôs tentando vender quinquilharias chinesas como se fossem produtos tradicionais da região. Apesar da insistência, isso acaba sendo normal, afinal os produtos chineses infestam da Patagônia à Escandinávia; dos países nórdicos à Nova Zelândia. Algo tão natural como o bacalhau do Porto, congelado, facilmente encontrado em São Paulo; “do Porto”, porém com a marca Made in China, às vezes, disfarçado pelas vogais RPC.

E a frase de um visitante traduz bem a nossa realidade: turista sofre! O termo é exato. Sofre, em que pese a antiga sugestão de que deveria relaxar, segundo a opinião de alguém que deveria tratar o nosso turismo com profissionalismo. Mas os tempos são outros. Comenta-se, no exterior, que o brasileiro está cheio de dinheiro, e que começa a viajar mais, a ponto de mexer com a postura de um certo país, outrora tão seletivo e arrogante na hora de conceder vistos de entrada.

Disposto a viajar, o brasileiro começa a ter parâmetros na hora de avaliar o que temos, o que poderíamos ter e o que deveríamos fazer para sermos, de fato, um polo aglutinador de turismo. E, numa análise muito simples, começamos a comparar o nosso potencial e chegamos à conclusão de que, se concentramos no turismo todas as nossas ações, em médio prazo seremos a maior potência mundial no setor.

Educação, formação de mão de obra, estrutura, segmentação do turismo; segurança, seriedade e, acima de tudo, consciência. Se conseguirmos unir esses fatores, em duas décadas teremos feito a total transformação. Algo complexo, dirão muitos. Concordo, mas o termo mais importante é a conscientização, em todos os setores da sociedade.

Da infância à velhice, precisaríamos manter programas de conscientização de como tratar bem o turista. Tratar com profissionalismo, oferecer a ele segurança, atenção, aprimorar o que temos em infraestrutura, e criar meios para eliminar as nossas carências. Respeito e aplicação de punições severas a quaisquer atos irregulares. Qualquer ato irregular.

Se conseguirmos iniciar um plano desse porte, teremos um país diferente. Afinal, qual a nação do mundo que dispõe de um potencial como o nosso?  Um litoral imenso, com praias fantásticas, cidades históricas, uma região inigualável como a amazônica, o pantanal, ilhas, termas, cavernas, sítios arqueológicos, grandes metrópoles com características próprias, festas populares, religiosas, vida cultural intensa, centros de compras, pesquisa científica e tantas outras alternativas.

As opções são muitas, em todos os setores. Talvez falte consciência disso, ou vontade política, ou até mesmo competência. Só não vale a repetição da infeliz sugestão para que o turista relaxe. Afinal, já fomos relaxados o suficiente. Agora é colocar a mão na massa e ir à luta.

*Vitor Sapienza, deputado estadual (PPS), é presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, além de ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas.