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Democracia e guerra santa americana 

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Os cáucus, a partir de Iowa, para a definição da candidatura republicana à Presidência, marcam os nortes da radicalização que confrontará Obama. Rompem o próprio jogo previsível que teriam as religiões neste alinhamento. E tal, a partir de que é um católico, Rick Santorum, que se alinha neste extremo, num novo credo fundamentalista dos republicanos. Como um contraponto, já os mórmons saem do rigorismo do seu credo poligâmico, com o favorito, agora, Mitt Romney, ex-governador do Massachusetts. Newt Gingrich, um possível candidato, ainda, de um centro nas hostes anti-Obama, mantém-se prudente na campanha, na tentativa de apostar num equilíbrio de posição, frente aos possíveis desatinos extremistas nos próximos cáucus. 

É o que, aliás, já levou Santorum a se manifestar pela abolição de qualquer ensino sobre o evolucionismo nos textos escolares americanos. Mais inquietante ainda, a nova onda ganhou o maciço apoio do segundo conglomerado mediático americano, e a Fox apenas começa na mobilização dos rednecks e da dita “América profunda” contra o “socialismo de Obama”. É a missão providencial de que se veem investidos os opositores aos democratas para defesa da civilização cristã, na ameaça do terrorismo e da “guerra das religiões”. Não é outro o quadro que leva à expectativa da larga maioria da catolicidade dos EUA pelo adensamento da mensagem vaticana, exatamente na esteira do que levou Bento XVI, na sucessão de João Paulo II, ao convívio judaico e muçulmano, e, justamente, contra a jihad, que parece, agora, chegar à dita “América profunda”. 

Nem pode ser outra a expectativa, em torno dessa nova liderança do pontificado, em que se destaca o cardeal americano Levada, responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, sobretudo na visão do novo missionarismo, atento aos direitos humanos, ameaçados pela civilização midiática, em que o grupo Fox assume posição tão agressiva e contundente. Verdadeiramente nova, às vésperas da busca de um novo mandato de Obama, é esta democracia dos indignados. E o alastrar de movimentos como o Occupy Wall Street apenas desata o passo adiante da democracia profunda, contra o neofundamentalismo do país desmemoriado das lições de Jefferson, Lincoln ou Roosevelt.

Candido Mendes, cientista político, é presidente do Senior Board do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco e membro do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da Comissão Brasileira de Justiça e Paz. -[email protected]