Duas ocorrências climáticas simultâneas mostraram de forma clara a situação cambaleante da nossa infraestrutura aeroportuária e a falta que faz o transporte ferroviário eficiente. Primeiro, foi a erupção do vulcão chileno Puyehue, que espalhou cinzas para o Brasil, Argentina e Uruguai, depois virou em direção ao Pacifico e chegou à Austrália. Segundo, como já são normais nesta época do ano no Brasil, os nevoeiros, notadamente na região Sul e Sudeste.
No que toca à decisão de cancelar e adiar voos devido às cinzas do Puyehue, foi absolutamente correta em função do risco que elas oferecem para a segurança. No entanto, aqueles voos cancelados e adiados devido aos nevoeiros são causa direta da falta de investimentos por parte da Infraero em modernos equipamentos de navegação, assunto esse que tratei em duas matérias publicadas no Jornal do Brasil, em 10/05 e 31/05. Através dos dois textos detalhei, também, a falta de investimentos em pistas, pátios, terminais. Ou seja, a infraestrutura aeroportuária é uma verdadeira calamidade.
Como é sabido, a maioria dos aeroportos ainda opera com sistemas antigos como DME, NDB e VOR. Alguns têm o ILS, mas a maioria é da categoria 1 (existem três categorias), muito limitado. Somente os aeroportos de Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Curitiba (PR) têm o ILS2, de maior abrangência, mas também eles têm as suas limitações. Por mais absurdo que possa parecer, não existe um só aeroporto no Brasil que tenha o ILS3, o mais completo, que se subdivide nas classe A, B e C, e, quando ocorre um nevoeiro muito denso, a solução é fechar o aeroporto, e aí o caos se instala. Imaginem se tivéssemos nevascas no Brasil como no inverno europeu! Seria o caos total.
Diante da situação dos cancelamentos dos voos nos damos conta da falta que faz uma eficiente e abrangente rede de transporte ferroviária rápida neste país continental que é o Brasil, a exemplo daquela existente, por exemplo, na Europa, na China e no Japão. Recordemos que, quando houve a erupção dos vulcões Eyjafjallajoekull, em 15/04/10, e doGrimsvotn, em 21/05/11, ambos localizados na Islândia, eles espalharam cinzas por grande parte do espaço aéreo europeu, que ficou fechado vários dias. Curioso notar nestes dois episódios que, naquele que ocorreu no ano passado, inicialmente, viram-se os aeroportos lotados, mas, com o passar dos dias e em função de uma excelente malha ferroviária, os terminais foram se esvaziando. Já este ano, não se viram os aeroportos lotados, pois de imediato os passageiros buscaram a alternativa ferroviária, rápida e eficiente.
No caso do Brasil, milhares de passageiros do Sul do país que, sem outra opção de transporte, somada à contumaz arrogância, prepotência e ao péssimo atendimento das companhias aéreas, que fazem o que bem entendem com os passageiros à revelia da Infraero e da Anac (que nunca estão presentes nestas situações), tiveram que enfrentar uma viagem rodoviária de 18 horas entre Porto Alegre e São Paulo, porque simplesmente não temos nenhuma rede ferroviária para transporte de passageiros. Não quero chegar ao “luxo” (?) de reclamar por não termos o Trem de Alta Velocidade (TAV), mais conhecido como trem-bala, mas, que pelo menos tivéssemos um trem rápido (em torno de 180 quilômetrospor hora). Já seria um alívio.
Promessas e mais promessas são feitas nos palanques eleitoreiros, que são esquecidas no primeiro dia de mandato. Entra governo e sai governo, e continuamos à mercê dos caprichos dos oligopólios e lobbies do transporte rodoviário e aeroviário. Em vez de se criarem ministérios e secretarias improdutivas que têm o único objetivo de entupi-los com neófitos apadrinhados políticos que não resolvem nada, que se privatizem todos os aeroportos e portos e deixem que a iniciativa privada construa milhares de quilômetros de ferrovias. Só assim passaremos de “país em desenvolvimento” para “país desenvolvido”. Quando as autoridades vão sair da sua redoma de vidro e começar a preocupar-se com o bem-estar da população?
Humberto Viana Guimarães é engenheiro civil e consultor