Há tempos que estamos usufruindo de algumas comodidades trazidas com o fenômeno da globalização, sem preocupações maiores com alguns dos ônus surgidos deste processo, especialmente os que se referem a tecnologia virtual. Ataques de hacker, que são definidos como sendo programadores que agem de má-fé com o objetivo de violar ilegalmente um sistema ou programa aproveitando-se de sua vulnerabilidade, ou mesmo de crackers, que alteram um programa em busca de novo comportamento deste eram pouco difundidos e não chamavam a atenção. Ataques sistemáticos e em larga escala como os que estão ocorrendo no Brasil eram realidades em países desenvolvidos e chegavam ao domínio público apenas em filmes de ficção atribuídos a organizações criminosas e terroristas. Talvez por esta percepção um pouco distante do problema, nossa legislação que trata de crimes cibernéticos seja ainda incipiente e os mecanismos de controle e prevenção não sejam tratados com a devida importância, além da carência de especialistas na área.
Mas, infelizmente, esta realidade mudou e de forma radical, mesmo com o silêncio das autoridades governamentais. Com a recente onda de ataques promovida na última semana por grupos como o Fatal Error Crew e LuizSecBrazil, cujos alvos foram sites do governo brasileiro como os da Presidência da República, Exército, Senado, Receita Federal, prefeituras, Petrobrás, IBGE, dentre outros, ficou evidenciada toda a fragilidade de um sistema que se julgava seguro e impenetrável. No momento, os autores ainda não identificados ficaram satisfeitos apenas em deixar os sites fora de operacionalidade com a chamada negação de serviços, realizada através do acúmulo repentino de acessos, uma manobra bastante comum para estes profissionais. Em alguns casos postaram mensagens para evidenciar sua capacidade como um sinal de alerta tipo “estivemos aqui”. Porém, esta guerra silenciosa poderia ser agravada caso tivesse ocorrido a violação de dados e informações pessoais e estratégicas, algumas sigilosas, com consequências e prejuízos irreparáveis, fato que poderemos constatar ou não com os desdobramentos desta crise.
O episódio, já caracterizado como o maior ataque virtual sofrido pelo governo na história, pode não ter ocasionado grandes consequências ou prejuízos significativos mas não torna a questão menos grave. Principalmente por existirem outras formas mais letais e abrangentes, notadamente as que se utilizam de vírus para destruir bancos de dados e subtrair informações e a possibilidade de serem direcionadas a outros setores e organizações como bolsas de valores, redes bancárias, sistemas aéreos. Poderiam, ainda, paralisar serviços essenciais que estão a cada dia mais interligados por sistemas eletrônicos, como a energia elétrica e a telefonia, com consequências diretas na economia e no cotidiano da população. Assim, aos poucos, vamos percebendo que pertencemos a um mundo globalizado com seus ônus e bônus e que, quanto mais nos digitalizamos e crescemos em importância estratégica e geopolítica, situações como esta começam a fazer parte do nosso cotidiano com perspectivas de um crescimento vertiginoso.
André Luís Woloszyn é analista de assuntos estratégicos, pós–graduado em ciências penais e criminologia, especialista em terrorismo (EUA) e diplomado pela Escola Superior de Guerra