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Exaltação da democracia

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            A exaltação do regime democrático, seja em datas especiais, seja em dias comuns, pode parecer de significado menor ou de nenhum significado, principalmente para os jovens. Não será despropositada a pergunta: qual o sentido de uma  tal celebração?

            As novas gerações não têm a possibilidade de estabelecer o cotejo entre regime democrático e regime ditatorial. A liberdade parece-lhes natural, e diante de certos episódios lamentáveis que maculam a democracia podem ter a tentação de questionar: na ditadura não seria melhor?

            O grande desafio da democracia é justamente aceitar o impacto da liberdade. Dizendo em outras palavras e recorrendo à força da expressão popular, tão rica em potencial semântico: na democracia “tudo é colocado em pratos limpos”. Nas democracias: a corrupção é denunciada; os jornais estampam nas manchetes as falcatruas; são apontados para conhecimento geral os conluios espúrios que traem o interesse público em benefício de interesses particulares e de grupos privilegiados. Nas ditaduras os mais vis procedimentos medram de maneira profunda, sem que deles a opinião pública tome conhecimento. Este não é um fenômeno das ditaduras brasileiras, mas das ditaduras em todo o orbe terráqueo. Só depois que caem as ditaduras, seus crimes vêm à tona, os carrascos passam a ter face e nome, as cifras dos ladrões são contabilizadas.

            Suponho que seria de bom conselho que, nas escolas de todos os graus, os professores debatessem com seus alunos a questão democrática.

            É certo que ainda não construímos a democracia brasileira. É certo que democracia não é só votar, mas é muito mais. Democracia é escola para todos, condições de vida digna para o povo, saúde pública de boa qualidade, futuro para os jovens, trabalho, moradia, segurança, esperança.

            Mas jamais um povo chegará à democracia plena através de uma ditadura que se declare provisória e que prometa para o amanhã os frutos da liberdade e o sabor da Justiça.

            Só o exercício democrático constrói democracia.

            Talvez em nenhum país do mundo a democracia, no nível político, tenha alcançado tão alto grau de prática efetiva como no Brasil contemporâneo. Há um abismo entre a democracia política que conquistamos e a democracia social, econômica e educacional, ainda tão distante. Mas, se conquistamos a primeira, desde os idos das Diretas-Já, podemos conquistar também a democracia plena que assegure à generalidade das pessoas a realização das aspirações condizentes com a dignidade humana de que todos somos portadores.

 

* Juiz de direito, um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória e também um dos fundadores do Comitê Brasileiro da Anistia (CBA/ES)