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Do complexo de vira-lata ao otimismo

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Nelson Rodrigues, o grande cronista e dramaturgo, dizia que o povo brasileiro padeceu, durante muito tempo – séculos, talvez – de um aparentemente irremediável complexo de vira-lata. Entenda-se por isso baixa autoestima, subserviência a tudo que fosse estrangeiro e um pessimismo quase patológico. Pois nada melhor que o tempo até mesmo para desmentir um gênio das palavras como Rodrigues.

O ano que se encerra à meia-noite desta sexta-feira mostra com mais nitidez o novo approach do Brasil. No cenário internacional, um país respeitado pelas posturas que assume e pela força de sua economia. Internamente, livre da inflação que por décadas torturou seu povo, a nação testemunha progressos nas áreas de infraestrutura e ascensão social de grandes parcelas da população antes condenadas a viver abaixo da linha da pobreza ou perto dela.

Claro que ainda há muitos problemas a sanar. Melhorar a educação, o sistema de saúde, atualizar o Código Penal, dar ainda mais agilidade ao Poder Judiciário, acabar com os bolsões de miséria... afinal, não se conserta um país tão grande e populoso em tão pouco tempo. A evolução não dá saltos.

Os avanços, porém, não são obra e graça de um governo, de um presidente. São resultado de um processo de tomada de consciência gradual dos brasileiros em relação ao que são e ao que podem se tornar. Essa escalada começou com a redemocratização do país. A primeira eleição direta para governador, em 1982, abriu uma sucessão de pleitos que forjaram as mudanças que hoje começam a surtir efeitos.

Um governante eleito pelo povo tem para com este obrigações morais, diferentemente daquele que governa amparado por um sistema autoritário. 

O brasileiro votou uma vez, e outra, e novamente. Errou, acertou, como é natural da democracia. Mas, a partir dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, e em seguida com os dois de Luiz Inácio Lula da Silva, o país parece ter entrado numa rota convicta de desenvolvimento. Há os que discordam de um e de outro, neste ou naquele ponto, mas é inegável que ambos contribuíram, e muito, para que 2011 chegue cercado de otimismo.