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De volta, o PT

Dilma não precisa de nenhuma legislação básica. Sabe que a reforma tributária exige maturidade

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A reação partidária do começo do governo Dilma aí está. Se a popularidade de Lula é de 84%, a militância petista não passa dos 37%. As coligações aliadas do governo já começaram com o descarte e o isolamento do partido de Lula. Ledo engano, entretanto, o de pensar-se que é das frentes parlamentares comandadas pelo PMDB que vai depender a iniciativa do novo Executivo. 

Dilma não precisa, para levar adiante o que herdou, de nenhuma legislação básica, de imediato, e sabe que a reforma tributária ou a eleitoral vai ser obra da maturidade do seu governo, e do avanço do desenvolvimento sustentado, que só necessita do próprio Executivo, no reforço já assegurado do PAC. 

O que importa, sim, é desencalhar o partido histórico, e retemperá-lo, nas suas fontes de origem, dos movimentos sociais. Deparamos o avanço alarmante do corporativismo sindical na entrega, praticamente, de um Ministério a cada força trabalhadora, às vezes num clientelismo inquietante das retribuições do ganho eleitoral. E aí está a distância dos sem-terra, na interrogação que se dirige aos comandados de João Paulo Stédile, de saber se prosseguirão no sentido comunitário da reforma agrária, ou se se concentrarão no sucesso dos assentamentos, nesse empuxe social básico contra a marginalidade nacional.

Exigir-se-ia – e para a ampla reformulação de um PT voltado às bases – o enlace com as ONGs, hoje sob o escrutínio do Tribunal de Contas, no destino do sem-número de verbas assistenciais, transferidas à promoção dos direitos humanos, em núcleos muitas vezes erráticos e dispersos. 

O essencial é o impacto do Bolsa Família, para a renovação dos quadros partidários do petismo. Mal realizamos ainda o que foi esse dinamismo coletivo, que permitiu o ingresso de uma população igual à Colômbia nos serviços de educação e de saúde, mesmo antes da garantia da carteira assinada. E é todo esse impulso que marca os seus beneficiários conscientes, cada vez mais, da autonomia do seu desempenho, reptando as velhas formações sindicais enquistadas e cobrando uma nova e determinada presença política. É só destacar de que forma a melhoria dos orçamentos familiares está rompendo com as fatalidades da velha economia de consumo das classes médias brasileiras, e reforçando, em parcela tão ponderável, o que já são esses 56% do país, chegando a uma economia continuada de consumo.

Força rompante, por outro lado, do Brasil de Dilma é o dessa agricultura familiar, que controlou o fluxo migratório errante para as metrópoles. Este arranque desmonta as velhas utopias comunitárias das raízes históricas do PT. É toda esta nova prática social que hoje aduba os movimentos sociais, em que a militância renovada do PT – e aí está o exemplo do eleitorado de Alexandre Molon, no Rio de Janeiro – confronta as coligações do velho Brasil, trazido à trilha, ainda da vitória de Dilma. Mas quem a ganhou foi esse “povo de Lula”, núcleo do que pode ser o novo partido. Livrou-se da ingenuidade e do apetite do poder de há oito anos, nesta militância emergente e prospectiva de quem sabe, de saída, e de vez, o que não quer.