Gilberto Ururahy *, Jornal do Brasil
RIO - O executivo contemporâneo é escravo da tecnologia. A eficiência de resultados está associada à velocidade da informação. Não se pode mais pensar na excelência corporativa sem orquestrar o uso de ferramentas tecnológicas.
> Computadores, laptop, palmtop, blackberry, ipad, entre outras tecnologias, compõem o ambiente do executivo moderno. Sem falar em novas plataformas, como é o caso do facebook e do twitter, para citar só algumas. O primeiro, há tempo, é utilizado por empresas para conhecer o perfil de um prospect e traçar estratégias de conduta. O segundo, em tempos de eleições, já se tornou importante estratégia de formação de opinião. Como confirmou recentemente o twitaço de uma presidenciável que ultrapassou os 100 mil seguidores na versão virtual de passeata.
A sociedade está se organizando em função das tecnologias. E as famílias estão sofrendo desagregação. Sobretudo em função da competição entre as novas tecnologias da comunicação e a simples relação presencial de familiares.
Recentemente, o New York Times noticiou que a comunidade twitter cresceu cerca de 900% no ano passado para mais de 5 milhões de utilizadores. Jovens confessaram não conseguir deixar o twitter de lado, como um vício de grande dependência.
O uso excessivo de tecnologias pode, de fato, causar dependência. Mas não é apenas desse mal que a sociedade pode vir a sofrer. Pesquisa da Universidade de Washington revelou que o uso repetitivo das extremidades pode provocar distúrbios musculares. Isto indica que o uso abusivo de digitação pode causar danos permanentes ou temporários nos polegares. As próximas gerações possivelmente não ouvirão falar de prótese, por exemplo, de joelho, mas de polegares.
Não há dúvidas sobre as conveniências que as novas tecnologias proporcionam à humanidade. Da engenharia da saúde ao universo corporativo, os ganhos são enormes.
Hoje, o decisor de uma empresa pode se desligar dela fisicamente sem deixar de responder por ela e a ela. Os aparatos tecnológicos são capazes de converter tempo ocioso em tempo produtivo, e a partir daí não há mais limites.
Com o blackberry em punho, o executivo moderno pode fechar negócios a qualquer hora, de qualquer lugar do mundo. Mais do que uma bengala eletrônica, se tornou uma ferramenta indispensável no mundo contemporâneo. O sono muitas vezes é interrompido para realização de um conference call. Compromissos são agendados por meio de serviços de alertas que funcionam a todo momento. Redigem, editam e respondem a e-mails, compulsivamente. E tudo isso remotamente.
Mas, até onde o executivo 24 horas poderá aguentar? O escritório virtual, em paradoxo a todas as facilidades que proporciona ao homem moderno, já está apresentando sua fatura à saúde. Trata-se do tecnoestresse.
As ferramentas tecnológicas estão desequilibrando a relação entre a vida profissional e a vida pessoal do homem moderno. Há 20 anos, executivos de grandes corporações não tinham computadores nem celulares e, quando voltavam para casa, o trabalho ficava para trás.
É preciso identificar a fronteira entre o profissional e o privado. Saber avaliar se o ganho empresarial é danoso à salubridade do individuo para com ele e para com sua própria família.
Outro fator que preocupa pesquisadores é a condição constante de suportar excessos e pressões. O fato pode acarretar transtornos psicossomáticos, ou seja, o estresse crônico. Com o tempo, a capacidade energética do corpo se esgota, e a pessoa pode sofrer de doenças graves como câncer e diabetes.
Pelo menos 80% das consultas médicas que acompanho têm ligação com o estresse.
Recentemente, o mundo corporativo se voltou espantado para o mistério da série de suicídios de funcionários da France Telecom. Segundo declaração do próprio vice-presidente da corporação, os funcionários sofriam de estresse pela pressão de excessivos e-mails, o que contribuiu para o ocorrido.
As áreas de Recursos Humanos das empresas antenadas já investem na prevenção da saúde como cultura organizacional.