Editorial, Jornal do Brasil
RIO - Aos poucos, com a conhecida paciência oriental, a China se transformou em nada mais, nada menos, do que o maior investidor estrangeiro direto no Brasil, atropelando os Estados Unidos, antigos donos do posto. Chegando praticamente do zero, hoje há dedos e dinheiro chineses em minas de ferro, quilômetros de terras cultiváveis e linhas de transmissão de energia.
Os objetivos orientais são claros: garantir recursos naturais, que ela não tem em suas terras, para abastecer sua poderosa e crescente indústria, e também ter acesso aos consumidores da maior economia da América Latina. Foi divulgado pela imprensa recentemente o investimento de US$ 5 bilhões na construção de uma siderúrgica no Rio, outros US$ 3 bilhões que chegam para participação em campos petrolíferos, além da compra de terrenos para plantio de grãos e produção de biocombustíveis.
Até aqui a posição do governo brasileiro tem sido de permitir essa invasão chinesa, até porque somos um país absolutamente interessado em capital externo, e não dá para dispensar um parceiro que hoje acumula em torno de US$ 2 trilhões em reservas internacionais. O Brasil aproveita-se ainda dos problemas que enfrentam tradicionais parceiros chineses, como os Estados Unidos, a Europa e o Japão.
Outro ponto bastante caro à política internacional do Brasil encontra comunhão perfeita nos chineses: o comércio entre países emergentes, sem que seja necessária a bênção das lideranças do planeta. Do ponto de vista da China, além dos dois maiores objetivos citados no início deste editorial, o Brasil também se encaixa na preferência dos orientais em negociar com países politicamente estáveis e que não atravessem crises caso nosso, bem como da Austrália e do Canadá. Aparentemente um casamento perfeito de interesses.
Não falta, contudo, quem tema que o Brasil acabe perdendo o controle sobre seus próprios recursos naturais, tal é a fome chinesa. Já há quem profetize que nossos parceiros comprarão o país , como quase literalmente já o fizeram com algumas nações africanas.
São evidentes exageros, e não há como, neste século, não se relacionar de maneira muito intensa com esse player. Basta que o governo brasileiro e os candidatos a presidente estão enquadrados nisso não tire um só minuto os olhos sobre a movimentação oriental.
É fundamental que esse investimento passe a gerar mais empregos do que gera hoje no Brasil, e que possa de algum modo influir positivamente no nosso quadro de exportações. Importante também é cuidar que o movimento chinês não venha a causar prejuízos à Vale, grande fornecedora de minério a esse país.
Mas, observados esses e mais alguns outros detalhes, a China é e sempre será bem-vinda.