As mulheres serão as protagonistas do Dia Nacional da Consciência Negra no Centro Cultural Municipal Professora Dyla Sylvia de Sá, na Praça Seca. O evento "Zumbi por Elas", que reunirá teatro, dança, gastronomia, artes visuais e história, além de exaltar a força do sexo que não é nada frágil, vai celebrar a figura ainda pouco conhecida de Dandara dos Palmares, mulher do personagem que deu origem à data.
"A história de Dandara não é lecionada nem sequer citada em livros escolares. E isso nada mais é do que a marca do machismo preconceituoso e atuante desde o Brasil Colônia. Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negros e feministas mencionam Dandara com a frequência e o destaque merecidos. Com esse evento, queremos ajudar a tornar sua biografia conhecida, assim como a importância da sua atuação ao lado de Zumbi", afirma Jusele Sá, uma das organizadoras do evento.
Para a convidada principal do evento, a cantora Luiza Dionizio, apresentar-se no dia 20 de novembro não é como fazê-lo em qualquer outra data. É sua maneira de se manifestar.
"Quando eu não sou chamada para fazer show nesse dia, o que é raro, estranho. Além de outros ritmos, como o samba, meu trabalho tem influência dos lundus e dos ijexás; a cultura negra está muito presente. É como se eu estivesse reverenciando o grande guerreiro, que lutou pela questão dos negros no Brasil, e assinasse embaixo de tudo o que ele fez por nós", conta ela, que, como milhares de pessoas, ficou indignada com as agressões racistas sofridas pela atriz Taís Araújo nas redes sociais.
"Foi de uma covardia sem tamanho. Mas, infelizmente, o preconceito nunca deixou de existir. As pessoas só evitam expressar suas opiniões para não serem presas. O dia 20 de novembro devia ser uma data de conscientização, mas as pessoas estão mais preocupadas em emendar o fim de semana do que em pensar sobre o assunto. Elas estão tão presas a um pensamento ignorante como os escravos estavam quando mantidos em cárcere privado pelos homens de pele branca. É muito triste."
A programação do evento contará ainda com o espetáculo Teatral "Ubuntu -- Eu sou porque nós somos"; a exibição dos curtas "O que você tem na cabeça" e "Mulher movente"; a apresentação da DJ Tammy; uma roda musical com o grupo Samba de Guerreira; uma exposição fotográfica de curadoria da fotógrafa Alessandra Coelho e sua irmã Cristiane Coelho; com obras de grandes nomes da fotografia: Wania Corredo, Luiz Morier, Salvador Scofano, Lissandro Garrido, Fabio Elias, Fernando Rabelo, Natasha Montier, Vanor Correia, Renata Rodrigues, Régis Souza, Ronaldo Nacarati, atuação de grafiteiras e apresentação do Bloco de Guerreira. No cardápio, feijoada preparada pela Casa Berner.
"Temos sempre que abrir as portas para a cultura. Mas receber um evento em que a questão do negro é discutida é importante para nós. O preconceito é uma coisa muito grave. Todos somos iguais", observa Avany da Silva Assis, gestora do Centro Cultural Municipal Professora Dyla Sylvia de Sá.