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Porto Maravilha: novas mudanças no trânsito preocupam cariocas

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Na próxima segunda-feira (24), os cariocas enfrentarão novas mudanças no trânsito do Centro. Para a execução da frente marítima das obras do Porto Maravilha, a partir deste sábado (22), pontos finais de 40 linhas de ônibus serão transferidos para cinco novos locais de parada. O projeto de revitalização da zona portuária já impôs outras alterações ao longo de três anos. As experiências, inicialmente, não foram bem recebidas pela falta de informação e devido aos engarrafamentos que tomaram a cidade.

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As mudanças continuarão no dia 29, aumentando o impacto no tráfego da Zona Central do Rio. A partir dessa data três das cinco faixas da Avenida Rio Branco, entre a Presidente Vargas e a Cinelândia, serão interditadas. O objetivo é, novamente, o progresso do Porto Maravilha. Assim, as linhas que passavam pela Rio Branco no sentido Candelária serão transferidas para a Rua Primeiro de Março.

Para o engenheiro de transporte urbano e mobilidade e professor da Uerj, Alexandre Rojas, as mudanças representam, mais uma vez, “um impacto muito grande para quem vai ao Centro”. Ele criticou a “divulgação mínima” que foi feita sobre as mudanças. No site do projeto Porto Maravilha um anúncio sobre as alterações diz que a divulgação começou no dia 19 de novembro, com 42 agentes explicativos e 250 mil folhetos. Contudo, o Jornal do Brasil esteve na Praça XV e ouviu reclamações sobre a pouca e ineficaz comunicação sobre as alterações.

Após o fechamento do Mergulhão da Praça XV, todos os ônibus que faziam esse trajeto foram alocados para outros pontos no Centro.  Parte das linhas foram para o terminal Misericórdia. Agora, o ponto será fechado levantando uma discussão sobre as medidas paleativas tomadas pela Prefeitura. “Por que não fizeram tudo de uma vez? Quando fizeram as primeiras mudanças, se eles sabiam o terminal ia fechar, deviam ter colocado esses ônibus de uma vez para onde eles serão transferidos agora. É como tomar uma injeção em duas parcelas”, avalia.

O professor acredita que “o que se tem notado é uma pouca e ineficaz coordenação. Cada órgão faz a sua parte em separado, cada um por si”. Perguntado sobre a previsão para o trânsito do Rio na próxima semana, Rojas diz: “a expectativa é que, na segunda-feira, o trânsito do Rio pare”.

Impactos

Jaqueline da Conceição é auxiliar de limpeza e usa o terminal diariamente. Ela não gostou da mudança e criticou a falta de informações. “Não estou sabendo da mudança, isso vai me prejudicar muito porque eu venho todos os dias de Nilópolis. Vou ter que sair de casa mais cedo porque trabalho no Museu, em frente ao terminal que vai acabar. O que nos chateia é que a prefeitura não se deu ao trabalho de avisar ninguém. Só hoje que eles colocaram uma senhora distribuindo panfletos para quem chega aqui. A prefeitura nos trata como bonecos, eles ficam nos jogando de um lado para o outro”, criticou.

Já a atendente Sandra Regina aprovou as alterações. “Estava sabendo da mudança há alguns dias, e pessoalmente eu achei melhor. Pra mim vai ficar muito mais perto, pois trabalho na Av. Almirante Barroso e tenho que andar daqui até lá, agora já vou saltar na porta do trabalho”, explica.

O cobrador Anderson Pereira também não se mostrou satisfeito. Ele trabalha na linha 292, que passa no terminal Misericórdia e, a partir do dia 22, será transferida para a Avenida Churchill. “A mudança passa a valer amanhã, mas hoje eles já tiraram o nosso banheiro. Estou há três horas no ônibus e apertado para ir ao banheiro, como vou fazer? Usar a rua? A prefeitura não explicou nada para ninguém, apenas hoje que eles colocaram uma senhora distribuindo um panfleto. Se essas mudanças melhorassem o trânsito seria mais fácil de entender, mas não, o trânsito da cidade está cada dia pior”, criticou. Hoje (21), uma equipe retirou as cabines de banheiros químicos que eram utilizados por motoristas e cobradores.

Ambulantes

Rederval da Costa é vendedor ambulante no terminal. Ele teme que, com a mudança, não consiga mais trabalhar. “Sou pai de família e preciso trabalhar para sustentar os meus filhos. A única informação que eu tenho é que não vou mais poder ficar aqui. Fui até a prefeitura fazer um cadastro para legalizar a minha barraca aqui, o documento estava prestes a sair, como vou ter que mudar de local, vou ter que voltar a ser ilegal”, contesta.

Essa também é a preocupação de Lucimar da Silva, que também não foi regularizada pela Prefeitura. “Eu vou levar minha barraca para a Av. Churchill. Provavelmente eles vão me tirar de lá. Estou sem saber o que fazer. Eu não queria, mas pelo jeito vou ter que voltar a trabalhar de maneira irregular, não posso me dar o luxo de ficar atoa”, diz.

Rita Januária  é única ambulante legalizada no local, mas, ainda assim tem motivos para se preocupar. “Não faço ideia do que vou fazer. Na prefeitura eu fui informada de que meu ponto não vai ser transferido, se eu for para outro lugar perco a minha licença. Estão dizendo que vão transformar o terminal em uma praça, mas se eu continuar trabalhando aqui vou perder todo o movimento que eu tinha por causa do terminal. Estamos totalmente perdidos”, explica.

Outras mudanças

Além das alterações das linhas do Terminal Misericórdia não serão as únicas. A Travessa Santa Luzia e a Avenida Churchill terão seus sentidos de mão invertidos neste sábado. O ponto de táxi da Praça Marechal Âncora será transferido para o outro lado da praça e o trajeto da ciclovia será modificado, passando para a esquerda do Largo da Misericórdia em direção à Avenida Alfred Agache.

O presidente do ponto de táxi da Praça Marechal Âncora, Wilson Menezes, ressalta que, apesar de parecer uma pequena mudança, os impactos também serão sentidos pelos taxistas. “A partir de amanhã nosso ponto vai ter que mudar porque aqui vai virar um dos terminais de ônibus. A distância daqui para o ponto novo é pequena, mas significa uma perda muito grande, já que aqui conseguimos estacionar 15 carros e no ponto novo serão apenas sete”, explica.

O conforto dos taxistas também será prejudicado pelas alterações impostas pelo Porto Maravilha. “Nós não temos nem um banheiro químico para poder usar, como tem mulher que trabalha conosco nós fizemos um acordo com o pessoal do estacionamento das barcas e usamos os banheiros deles. Hoje cedo a prefeitura nos avisou que teríamos até amanha para retirar nossa cabine daqui. Somo tratados pela administração pública como objetos, ficam nos jogando de um lugar para o outro, isso precisa acabar”, contesta.

* Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil