A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) afirmou nesta segunda-feira que suas investigações comprovaram que o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira foi torturado dentro do Hospital Central do Exército (HCE) durante a ditadura. Segundo a Comissão, esse é o primeiro caso que se tem notícia de pessoa torturada dentro da unidade médica.
O engenheiro foi preso em 1º de agosto de 1971 e transferido para o Hospital Central do Exército (HCE) em 4 de agosto do mesmo ano, com vários ferimentos no corpo, decorrentes de torturas sofridas no DOI-Codi, órgão da ditadura. Na época, a informação dos órgãos oficiais era de que os machucados seriam provenientes de uma briga que teria ocorrido entre Raul Amaro e oficiais durante uma revista na casa dele. Segundo documentos do Serviço Nacional de Informações (SNI), ele era militante do MR-8, grupo que participou da luta armada contra a ditadura e sua casa funcionava como aparelho desse grupo, servindo para guardar “documentos de organizações esquerdistas”.
Em 2103, a família de Raul Amaro entregou à Comissão um relatório de 262 páginas com documentos que mostram que ele foi interrogado dentro do HCE, resultado de pesquisas no Arquivo Nacional, nos acervos públicos de São Paulo e do Rio, além de entrevistas com parentes e amigos dele. Agora, a CEV-Rio afirma que não há dúvidas de que Raul Amaro foi torturado e morto dentro do hospital.
“Nas piores situações que a humanidade enfrenta, as pessoas não são mortas dentro de um hospital. O triste é que temos certeza que Raul Amaro foi torturado e morto dentro do hospital do Exército. Não temos mais nenhuma dúvida sobre isso”, disse Nadine Borges, presidente da CEV-Rio.
Segundo a Comissão, há uma diferença na quantidade e nos tipos de lesões descritas entre o exame que Raul Amaro fez ao dar entrada no HCE e as descritas no exame cadavérico. Um documento assinado pelo general do Exército Rubens do Nascimento Paiva informa ao diretor do HCE que dois militares estão autorizados a entrarem no hospital para interrogar o engenheiro.
Laudo comprova tortura
Nesta segunda, a Comissão afirmou que laudo do médico-legista Nelson Massini, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, comprovou que as lesões sofridas por Raul Amaro, pelas características (tipo, frequência e localização), são oriundas de tortura e que elas foram sofridas dentro da unidade. Raul Amaro morreu em 11 de agosto de 1971 aos 27 anos.
Em 1994, a família do engenheiro, que era funcionário do Ministério da Indústria e do Comércio, obteve na Justiça, 15 anos depois, sentença definitiva que considerou o Estado culpado pela morte dele. No processo, foi fundamental o depoimento de um soldado que viu Raul Amaro ser torturado no DOI-Codi, órgão de repressão durante a ditadura. A família afirma que ele apenas fazia parte da rede de apoio ao MR-8.