A milícia que obrigava proprietários de imóveis do programa federal Minha Casa, Minha Vida a pagar taxas para viver nos apartamentos no Rio de Janeiro contou com a ajuda de síndicos para implantar o esquema. A partir desse contato, o grupo criminoso se apropriava de dados importantes para o trabalho de extorsão de cerca de 5 mil moradores. Nesta quinta-feira, a Operação Tentáculos prendeu pelo menos 21 suspeitas de integrar a quadrilha conhecida como Liga da Justiça.
A organização agia de forma violenta em Campo Grande e Cosmos, na zona oeste do Rio. A megaoperação foi comandada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Organizados e Inquéritos Especiais (Draco-IE).
Além da prisão do chefe da quadrilha - o policial militar João Henrique Barreto, vulgo Cachorrão, lotado no 40º BPM (Campo Grande) -, um homem identificado como Ademir Horácio de Lima também ajudou as forças de segurança a entenderem como funcionava o esquema de venda e locação dos imóveis. O bando chegava a faturar mais de R$ 1 milhão por mês – o valor exato ainda está sendo calculado, tendo em vista que o grupo atuava também em outras localidades da região.
Deni, como era mais conhecido, era o síndico do condomínio Ferrara, em Campo Grande. Aliciado pelos milicianos, era dele a função de cobrar as taxas não só de locação indevida, como de segurança, luz, e cestas básicas – que eram adquiridas por R$ 70 e revendidas aos cerca de 5 mil moradores dos seis condomínios a exorbitantes R$ 220. Quem não comprasse com os milicianos corria o risco de expulsão e morte.
“O síndico era um porta-voz e ameaçava. Ele era integrante da milícia, fazia parte da estrutura. Ele é um miliciano. A cúpula não vai meter a mão aos atos menores. Quanto mais alto você está, mais longe você está dos atos”, explicou o promotor do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) Marcos Leite.
De acordo com o titular da Draco-IE, delegado Alexandre Capote, líderes como o próprio Cachorrão participavam de atos de execução dos moradores para dar exemplo, mas era o síndico quem tinha o papel fundamental na organização de reunir informações sobre cada um dos moradores dos apartamentos. Anda não há um número certo de homicídios praticados pelos criminosos.
“Eles (milicianos) avaliam o que poderiam ganhar, como atuar, e no caso dos condomínios era cooptar os síndicos. Fazendo isso, eles tinham acesso a quem mora, nomes dos moradores, dados, outros endereços, até mesmo sobre o contrato com a Caixa (Econômica Federal)”, explicou Capote.
“Essas Informações eram vitais para que eles pudessem cometer as extorsões e ameaças. Hoje foi preso um dos alvos, que era um síndico de um dos condomínios e tinha uma posição de destaque de cobrar e atuar de frente em relação aos moradores cobrando cotas extras”, complementou o titular da Draco-IR. Ele informou ainda que com Ademir foram encontradas listas de quem pagava, quem era devedor e quem estava na lista negra da organização criminosa.