ASSINE
search button

“Não há prazo para a reabertura do Engenhão”, diz a concessionária

César Maia, prefeito à época, diz que problema é de manutenção

Compartilhar

O representante do consórcio da Odebrecht/OAS, que construiu o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, Marcos Vidigal, e o presidente da RioUrbe, Armando Queiroga, revelaram nesta quarta-feira (27) que dois arcos das arquibancadas leste e oeste do Engenhão tiveram um deslocamento de 50% acima do previsto pela ação dos ventos, que deveria ser de 67 cm X 43 cm. Além disso, Vidigal e Queiroga afirmaram que “não há prazo para a reabertura do estádio”.

“Estamos focando na segurança. Este é um trabalho preventivo. Nós encaminhamos um relatório ao prefeito e ele aceitou a interdição do estádio”, disse Marcos, que ainda prometeu se esforçar para que o projeto de solução do caso seja criado em até 30 dias.

>> 'JB' já havia alertado para problemas no Engenhão

A Prefeitura do Rio acompanha os riscos de ruína da cobertura do local desde a fase final da construção, ainda em 2007. O relatório de 2009, enviado ao órgão, continha a indicação de risco para a cobertura do estádio, no caso de ocorrerem ventos acima de 115 quilômetros por hora. Agora, em 2013, no relatório encaminhado ontem pela empresa SBP indica que o risco poderia ser grande, na verdade, com ventos de 63 km por hora. A Prefeitura admitiu arcar com os custos e declarou que irá investigar os responsáveis pela construção, mas que irá primeiro analisar se o erro foi de projeto ou foi de execução.

Vale lembrar que quando a Delta deixou de participar das obras, em março de 2007, a prefeitura do Rio tomou o projeto para si e contratou emergencialmente o consórcio Odebrecht-OAS, deixando-o responsável pela montagem da obra. Se o erro causador da interdição ocorreu no projeto do estádio, segundo a assessoria da prefeitura, o poder público irá arcar com os custos. Se for de execução, a concessionará irá pagar pelo prejuízo na cobertura do estádio.  "Os dados do relatório entregue ontem foram considerados incipiente para saber se o erro foi de planejamento ou na execução da obra", afirmou Marcos Vidigal.

Inaugurado em 2007, o Engenhão foi inicialmente orçado em R$ 60 milhões, em 2003, quando as obras ficariam sob responsabilidade da Delta Construções. No entanto, empreiteira abandonou a obra e a Odebrecht/OAS ficou responsável pela montagem do estádio a partir de março de 2007. O valor passou a ser de R$ 380 milhões.

"Problema de manutenção", diz César Maia

Prefeito do Rio à época da construção do Estádio, César Maia diz que não tem medo de que o episódio acabe respingando na sua administração. "São coisas da política que o tempo lava", diz ele, que classifica a questão da cobertura do Engenhão como uma "bobagem":

"Em breve, vai ficar claro que isso tudo foi um problema de manutenção", disse o vereador, que contou também detalhes sobre a saída da Delta construções do Consórcio, em 2007:

"A Delta venceu a licitação de fundações chegando a parte próxima a cobertura. O consórcio Odebretch/OAS disse que a Delta nao poderia fazer parte de conexão com a cobertura, pois precisavam de unidade. Dessa forma a Delta saiu protestando", finalizou César Maia, acrescentando que não houve qualquer indenização por parte da empresa à prefeitura. 

Prefeitura sabia do problema

Pelo menos quatro relatórios foram encaminhados, desde 2007, sobre as condições do Engenhão. O primeiro, de 15/08/2007, feito em São Paulo pela Projeto Alpha Engenharia de Estruturas S/C Ltda, indicava que todas as estruturas de aço que compunham o estádio estavam ok. As recomendações, porém, mostravam a necessidade da instalação de um anemômetro(aparelho que mede a velocidade do vento) no topo dos arcos Leste e Oeste, justamente os que mostraram problemas e causaram a interdição do estádio. O objetivo, juntamente com a instalação de um acelerômetro, seria verificar o deslocamento das estruturas quando ventos de grande intensidade atingissem o estádio.  

Um novo relatório, de dezembro de 2009, realizado pela consultoria portuguesa TAL, já demonstrava a preocupação com a ação dos ventos de 115 km/h na estrutura metálica. As recomendações indicavam a necessidade de rotina de observação diária da cobertura do estádio, e a interdição do Estádio Olímpico João Havelange quando os ventos atingissem 115 km/h.

Já em 2010, O Consórcio Racional Delta Recoma, respondeu a um ofício da prefeitura que pedia a montagem da estrutura metálica dos setores leste, norte e sul, assim como a fabricação e montagem de estrutura metálica das transições nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste da cobertura do estádio. Um parecer técnico do dia 10 de fevereiro diz que a recomendação da Tal Projecto é da interdição do estádio quando os ventos ultrapassassem 115 km/h. Na resposta da empresa, é lembrado que várias ocorrências de rajadas de vento acima de 130 km/h haviam sido registradas na cidade,sem qualquer mau comportamento da estrutura da cobertura.

Finalmente, em 2013, o relatório do Consórcio Engenhão alerta que, "diante das informações técnicas conclusivas, emitidas pela consultoria especializada SBP, aconselha-se a adoção de medidas visando à interdição do Estádio Olímpico João Havelange", segundo o relatório desta terça-feira.

Histórico problemático da Delta

A Delta Construções, de Fernando Cavendish e famosa pelas relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, abandonou as obras do Engenhão em março de 2007. É apenas uma das amostras de polêmicas envolvendo a empresa. Após a saída da Delta do Engenhão, as obras ficaram a cargo da Odebrecht-OAS.

O fato se repetiu no caso do Maracanã: após as denúncias de corrupção envolvendo Cachoeira, a empresa deixou a participação de 30 % nas obras do Maracanã em abril de 2012 e ficou de fora do consórcio que administrava as obras do estádio. As obras, coincidentemente ou não, ficaram a cargo do consórcio Odebrecht-OAS. A Delta repetiu o expediente nas obras do Castelão, em Fortaleza.

Fora da questão dos estádios, existe ainda a lembrança da tragédia de helicóptero que matou seis pessoas em Trancoso, na Bahia, em junho de 2011. Em nota no Informe JB, se descobriu que o helicóptero que levou a primeira leva de convidados, justamente a que teve as seis vítimas, foi alugado pelo dono da Delta.

Nota do Consórcio

Em nota divulgada nesta quarta-feira, o Consórcio Engenhão afirma que "foi contratado em 2005 para realizar as obras complementares do Estádio Olímpico João Havelange, tais como acabamentos e instalações.Em 2007, por meio de Contrato de Emergência, a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro contratou o Consórcio Engenhão também para concluir a montagem da cobertura, que, na época, já tinha projeto executivo e 25 % das obras realizadas pelos construtores anteriores.

Segundo a empresa, "as atividades de montagem da estrutura foram realizadas com o acompanhamento da Prefeitura, entre janeiro e julho de 2007. Desde a conclusão da cobertura metálica, em julho de 2007, o Consórcio Engenhão vem acompanhando o comportamento da estrutura do estádio. O motivo desse acompanhamento foi a verificação pelo Consórcio que, após o descimbramento da cobertura (operação de retirada do escoramento), o deslocamento da cobertura metálica foi diferente do que o previsto pelos projetistas e consultores. Mesmo com esse deslocamento diferente do previsto, a estrutura do estádio ficou estável e assim permanece até hoje", afirma o Consórcio.

Para verificar o deslocamento de ar e se o mesmo poderia comprometer a estrutura, foi contratado um escritório verificador (TAL – Tal Projecto, empresa certificadora de Portugal, com larga experiência internacional no setor). Os estudos da TAL não chegaram a conclusões convergentes com as dos projetistas. 

A fim de ter um terceiro parecer, o Consórcio contratou um novo especialista, a empresa alemã SBP (Schlaich Bergermann und Partner), referência mundial em engenharia estrutural e em coberturas de estádios. De acordo com a nota, "A SBP elaborou um novo modelo de estudos e submeteu uma maquete do estádio a um túnel de vento para avaliar a situação de maneira mais próxima de condições reais. As conclusões do estudo da SBP, levadas pelo Consórcio Engenhão ao conhecimento da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, recomendam que a estrutura do estádio passe por intervenções preventivas, visando restabelecer os níveis de segurança originalmente projetados."