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Caso Adrielly: chefe diz ter avisado médico de que não poderia faltar

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro ouviu nesta quinta-feira o depoimento de quatro médicos do Hospital Salgado Filho referentes à investigação da suposta omissão de socorro à menina Adriely dos Santos Vieira, 10 anos, que esperou oito horas para ser atendida na unidade de saúde após ser baleada na cabeça na noite de Natal. Segundo o delegado Luiz Archimedes, da 23ª DP (Méier), o depoimento de José Renato Paixão, chefe do setor de Neurologia do hospital, foi bastante esclarecedor quanto à eventual responsabilidade do neurocirurgião Adão Orlando Crespo Rodrigues, que estava escalado para trabalhar na noite do crime, mas faltou ao plantão.

Segundo Archimedes, Paixão confirmou ter recebido um telefonema de Rodrigues, na véspera do plantão de Natal, avisando que não iria trabalhar na noite do dia 24, quando a criança foi internada no hospital. O chefe do setor de Neurologia, entretanto, teria alertado o médico que não seria possível escalar um substituto.

"O importante na história toda foi o depoimento do doutor José Renato Paixão. Porque, segundo o depoimento prestado pelo doutor Adão dias atrás, ele falou que ligou pro doutor José Renato dando ciência de que ele não compareceria ao plantão do dia do fato, quando a menina levou o tiro. Mas o José Renato, tomando conhecimento da ligação, ele alertou ao doutor Adão que ele não poderia faltar de jeito nenhum, porque tinha uma escala e não tinha ninguém para cobrir", afirmou o delegado.

Além de José Renato, prestaram depoimento nesta quinta-feira as médicas Maria Estela Dias, Eneida dos Reis e Lúcia Maria Avelar, que trabalharam no plantão de Natal. "As médicas todas falaram dos procedimentos que tomaram durante a permanência da garota, assim que chegou, os procedimentos que elas adotaram", completou Archimedes.

Adrielly deu entrada no hospital na noite de 24 de dezembro de 2012, após ser atingida na cabeça por uma bala perdida. Após esperar oito horas para ser atendida, a menina foi operada e encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu e teve morte cerebral diagnosticada no dia 30 de dezembro.

A Secretaria Municipal de Saúde instaurou um inquérito administrativo para apurar o caso. "A Secretaria Municipal de Saúde lamenta e repudia o comportamento do profissional e aplicará a punição cabível ao médico", afirmou a secretaria na ocasião.

O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que alegou ter faltado aos plantões no Hospital Salgado Filho, no Rio de Janeiro, por não concordar com a escala determinada pela direção da unida, é reincidente. Segundo informações do jornal O Globo, o médico responde a processo administrativo e está afastado das funções no Hospital Federal do Andaraí desde 2006 pelo mesmo motivo: ter faltado ao plantão. Segundo o Ministério da Saúde, Adão não recebe salário desde a instauração do inquérito, que ainda não foi concluído.

Em depoimento, o neurocirurgião culpou a própria secretaria pelos dias que faltou ao trabalho. O médico admitiu que não comparecia aos plantões na unidade havia um mês, mas alegou que o fez por não concordar com a forma como era definida a escala. Ele afirmou que era o único especialista em sua área nos plantões, o que estaria contrariando uma norma do Conselho Regional de Medicina (Cremerj), que determina a presença de dois profissionais por plantão. Segundo a secretaria, o neurocirurgião deveria ter pedido a exoneração se não concordava com as regras do plantão.