Moradores da comunidade do Gogó da Ema, no bairro Bom Pastor, em Belford Roxo, Baixada Fluminense, afirmam que traficantes oriundos da Rocinha, em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, chegaram à região na madrugada do dia 13 de novembro, pouco antes de as forças de segurança pública invadirem a favela carioca. A Polícia Civil informou que irá apurar o caso.
Os bandidos teriam desembarcado em dois caminhões-baú e se juntaram aos comparsas que controlam a distribuição de drogas na favela, dominada pela mesma facção criminosa de Antônio Bonfim Lopes, o Nem. Acusado de ser o chefe do tráfico na Rocinha, ele foi preso por homens do Batalhão de Choque no dia 9 de novembro, quando tentava fugir escondido no porta-malas de um carro.
Segundo os denunciantes, que preferiram não se identificar, armamentos passaram a ser transferidos para a localidade no início do mês, assim que começaram as ações de cerco à Rocinha. De acordo com uma das fontes que conversaram com o Jornal do Brasil, no dia 12, véspera da ocupação, agentes do 39º BPM (Belford Roxo) realizaram uma ação preventiva e tomaram a favela Gogó da Ema sem disparar nenhum tiro, a exemplo do que ocorreu na Rocinha. Os policiais, porém, teriam saído três dias depois e os traficantes, voltado a agir livremente.
A Polícia Civil informou que está investigando as denúncias, mas, de acordo com o delegado André Pieroni, titular da 54ª DP (Belford Roxo), até o momento não há nenhuma evidência concreta da veracidade das informações. O delegado garantiu ainda que todas as comunidades do município estão sob constante monitoramento.
A reportagem também procurou a tenente-coronel Célia Gonçalves Rodrigues, comandante do 39º BPM, para comentar o caso, mas a assessoria de imprensa da Polícia Militar afirmou que ela não poderia responder aos questionamentos por questões de agenda.
Freixo: UPPs são louváveis, mas não solucionam o problema
O episódio acende o sinal de alerta para a real possibilidade de o aumento do número de comunidades contempladas com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na capital do estado - são 18 até o momento - motivar os bandidos a migrarem em massa para a Baixada, elevando os já altos índices de criminalidade na região.
Presidente da CPI das Milícias da Alerj, que resultou no indiciamento de 225 pessoas ligadas a grupos paramilitares em 2008, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) afirma que o projeto das UPPs é louvável, mas, por si só, não é capaz de resolver o problema da violência no Rio de Janeiro. Ele questiona a baixa quantidade de presos nos locais ocupados e os critérios utilizados para escolher onde as unidades são implantadas.
"É verdade que muitos garotos que estavam no tráfico passaram a trabalhar depois das ações, mas o baixo número de prisões indica que o problema está apenas sendo trocado de lugar. É evidente que não há condições de instalar uma UPP em cada favela da cidade, e essa também não é a solução. Um lugar pacificado não é um lugar com muita polícia, é um local com investimentos", analisa. "Mas o que mais me preocupa é o mapa das UPPs. Não é baseado em um projeto de segurança pública, mas, sim, no interesse do capital privado. E os moradores que estão fora deste corredor? Serão abandonados?", indaga.
Freixo alerta ainda para a necessidade de os policiais civis e militares receberem melhores treinamentos e condições de trabalho. Lembra que os salários dos agentes no estado estão entre os piores do país e afirma que o processo de formação se torna deficiente devido ao pouco tempo disponível para a instrução dos praças.
"Não sou eu que faço essa análise, mas os próprios policiais. Além disso, a Corregedoria e a Ouvidoria não possuem os instrumentos necessários para realizar um trabalho de controle eficiente. Na maioria das vezes em que vemos a Polícia Militar ser investigada, é um trabalho externo, como foi na Operação Guilhotina [deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro]. Estas são situações que devem ser corrigidas caso queiramos avançar", conclui.
A Secretaria de Segurança não se pronunciou a respeito das declarações do deputado.