A região de Niterói, no Rio de Janeiro, está intrigada. Todas as manhãs as bancas de jornal expõem manchetes sobre o caso da loira que teria matado um empresário no quarto de um motel. Sob a mira das câmeras e dos microfones postos diante da 77ª Delegacia de Polícia Civil, em Icaraí, a delegada Juliana Rattes se debruça sobre laudos e depoimentos para tentar descobrir o que ocorreu na madrugada do último sábado e o que teria motivado Verônica Verone, uma garota de 18 anos, a confessar o assassinato daquele que seria seu amante, Fábio Gabriel Rodrigues, 33 anos. Como ela teria conseguido? O que a teria motivado? São perguntas que permanecem diante de versões que se contradizem e, por vezes, soam fantasiosas.
A loira
Os parentes de Verônica Verone estão blindados. Ninguém fala sobre o que ocorreu ou sobre o comportamento da garota. Colegas da turma 831 do 9º ano da Escola Municipal João Monteiro, onde Verônica estudava, afirmam que a jovem gostava de sair e gostava de festa eletrônica. Descrevem Verônica como uma menina que chamava a atenção de todos por sua beleza.
A jovem morava com a mãe em Itaipuaçu, Maricá, município próximo a Niterói, área metropolitana do Rio de Janeiro. Seu pai morreu em janeiro de 2010. Após a morte, Verônica foi transferida do colégio particular Evolução, de Itaipuaçu, para a escola municipal.
Verônica se apresentou à polícia na segunda-feira, às 12h, após ter tido sua prisão preventiva decretada. Ela havia sido indiciada por homicídio qualificado por motivo fútil e tentativa de ocultação de cadáver. Em depoimento, Verônica confessou ter enforcado o empresário, que estaria desmaiado. Depois, tentou arrastar o corpo da vítima até a garagem do motel, onde estava o carro. Na quarta-feira, o laudo de local solicitado pela polícia não indicava sinais de estrangulamento no corpo de Fábio, demonstrando possível contradição e seu depoimento.
A delegada marcou para sábado a reconstituição do crime. O objetivo é saber se a menina seria capaz de arrastar o corpo do empresário, que tinha 1,90 m, escada abaixo até a porta da garagem, onde foi encontrado, ou se haveria uma terceira pessoa envolvida no crime. As imagens das câmeras de segurança do motel mostram o veículo de Fábio entrando no motel às 2h14 da madrugada de sábado. Um homem estava dirigindo, mas, segundo os policiais, não é possível identificar se era Fábio, pois os vidros da caminhonete são escuros. Às 6h27, o veículo deixa o local com Verônica ao volante.
"Não há evidências que comprovem o envolvimento de uma terceira pessoa, mas não descartamos a hipótese", afirma a delegada. Juliana Rattes tenta desde segunda-feira, sem sucesso, entrar em contato com um suposto namorado que Verônica declarou ter no Rio de Janeiro.
Mesmo diante da confissão da suspeita, o advogado de Verônica apresentou outra versão. Segundo Rodolfo Thompson, a jovem sofria de síndrome do pânico de alta gravidade e tomava dez medicamentos diariamente. Contrariando a primeira versão, de que a jovem teria reagido a uma tentativa de abuso sexual por parte do empresário, Thompson afirmou que a jovem teve uma alucinação no momento em que Fábio teria tentado tirar a roupa de Verônica. Ela teria contado ao advogado que sofreu uma tentativa de abuso sexual por parte do pai quando tinha entre 7 e 8 anos e que, naquele momento, ela enxergou o empresário como sendo o pai e reagiu violentamente.
O advogado nega que os dois tenham praticado sexo. Segundo Thompson, a relação dos dois era de amizade. Fábio teria ido ao motel com Verônica, pois "se sentiria mais à vontade para beber". Ele afirma ainda que, antes de ir ao motel, o empresário teria ingerido meio copo de um produto de limpeza. "Ele tomou por conta dele, porque quis. Parece que a mãe (de Verônica) esvaziou uma garrafa de vodka e, na falta da bebida, ele tomou o desinfetante", afirmou Thompson.
O empresário
A família de Fábio se diz magoada com a versão apresentada pela defesa de Verônica. "Além de difamarem meu tio, insinuando que ele usava drogas, agora querem dizer que ele era louco", afirma o sobrinho de Fábio. Eduardo Hugo Barroso Costa, 23 anos, se diz próximo ao empresário. "Ele me falava tudo. A gente sempre andava junto. Meu tio saía com ela porque era interessante para ele andar ao lado de uma mulher bonita. Para ela, era interessante sair com ele porque ele tinha dinheiro", afirma o jovem.
Fábio, que era proprietário de um lava-jato, era o mais novo de cinco irmãos. Deixou dois filhos, um menino de 4 anos e uma menina de 7 anos. O sobrinho descreve o tio como brincalhão. "Ele era uma criança, vivia brincando com todo mundo. Gostava de bater papo, de contar piadas. Nos dávamos muito bem", afirma.
Rosemary Barroso, uma das irmãs de Fábio, conta que desaprovava o relacionamento com a jovem. "Uma vez, ela foi até a minha casa com ele. Não deixei entrar. O Fábio estava separado, mas ainda não era divorciado", conta. Segundo Rosemary, seu irmão não estava mais interessado em manter o relacionamento com Verônica. "Ele viu que tinha feito besteira. Estava sentindo falta da família", afirma. Para Rosemary, a rejeição teria motivado Verônica a cometer o crime: "Ela já havia conseguido provocar a separação dele. Mas quando viu que ele não ia ficar com ela, ela fez o que fez".
A família conta que a ex-mulher de Fábio está afastada para preservar os filhos. "As crianças sentem falta. Estão com saudades. Não sabem muito bem o que aconteceu ainda", conta. Segundo ela, a família inteira está chocada. "Eu nem tive tempo de sofrer. Estou ajudando minha mãe. Está sendo muito difícil para ela", afirma Rosemary.
Eduardo espera que a memória do tio seja preservada. "Um dia os filhos dele vão crescer e podem ver tudo isso que o advogado dela está falando do pai deles e isso não é verdade", afirma o sobrinho. De acordo com a família, o empresário não usava drogas, mas gostava de beber.
Para Eduardo, o tio aceitou sair com Verônica na sexta-feira porque havia consumido álcool. "Ele já tinha bebido bastante. Ela ligou para ele. Uma mulher bonita daquelas", afirma.
Rosemary acredita na condenação de Verônica: "Não acho que justiça possa ser feita. Não há o que pague o crime que essa menina cometeu. Mas que fique presa. Isso é pelo menos um alívio".
A investigação
Para a delegada Juliana Rattes, algumas coisas precisam ser esclarecidas. O laudo de local, que ficou pronto na quarta-feira, indica novas possibilidades, que a delegada prefere não divulgar. Segundo ela, isso atrapalharia a investigação. Juliana ainda aguarda o laudo cadavérico para confirmar a inexistência de estrangulamento, visto que não havia sinais externos no corpo do empresário que indicassem a agressão.
Neste caso, há duas hipóteses: Fábio pode ter sido morto por envenenamento ou ter tido uma overdose. "Isso não descarta o envolvimento de Verônica. Se foi uma overdose, por que ela não chamou socorro, por que tentou levar o corpo?", indaga.
A delegada duvida também da capacidade da jovem de transportar sozinha o corpo do empresário. Para ela, o envolvimento de uma terceira pessoa é uma possibilidade.
Juliana afirma também que o depoimento da mãe e da irmã de Verônica entram em contradição com os depoimentos da suspeita. "Há alguns momentos em que elas se contradizem. Ainda precisamos analisar melhor", afirma. Um dos laudos mais importantes da perícia é o exame toxicológico do corpo de Fábio, que ainda não tem previsão para ficar pronto. Ele vai poder dizer o que a vítima ingeriu antes de morrer.
A delegada acredita que concluirá o inquérito em 30 dias, contando a partir do início das investigações. Nesta quinta-feira, a prisão temporário da jovem foi renovada para 25 dias. Verônica aguarda no presídio de Bangu 7.