ASSINE
search button

Trote para 190 e 193 pode gerar multa cobrada na conta telefônica

Compartilhar

Caio de Menezes, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - A partir de agora, quem passar trote para os serviços telefônicos de atendimento de emergência da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros terá de ressarcir o Estado por cada etapa das rotinas relacionadas ao atendimento das emergências, desde os custos de atendimento e triagem das chamadas até os custos dos deslocamentos das equipes . É o que prevê a Lei 5.784/10, sancionada nesta segunda-feira do Diário Ofi cial, que definiu ainda que a cobrança será feita através da conta telefônica.

Autor do projeto que deu origem à lei, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), afirmou que a intenção é melhorar a qualidade do atendimento prestado à população e estimular o diálogo entre pai e filho . Já que, de acordo com o parlamentar, as crianças são as principais responsáveis pelos trotes.

É uma proposta essencialmente educativa disse ele. O trote prejudica o atendimento da polícia e dos bombeiros e onera os cofres públicos, já que gasta-se tempo e dinheiro no deslocamento para atender a chamados falsos. Quando o pai de família vir em sua conta de telefone que o filho passou um trote, certamente ele irá chamá-lo para conversar.

O coronel Almeida Neto, superintendente de comando e controle da PM, que recebe 23.500 ligações diariamente, espera que o número de trotes chegue a zero. Segundo ele, hoje, 18% dos telefonemas recebidos são trotes. Em 2007, o percentual era de 30%.

A medida vai ajudar ainda mais nessa redução de trotes, que teve início ano passado com o programa O 190 liga para você afirma o coronel. Desde então, é praxe retornar a ligação para para confirmar a veracidade e, também, para saber se o usuário foi bem atendido. Aproveitamos para conscientizar quem passa os trotes.

A PM conta com 248 atendentes terceirizados para atenderem as chamadas em quatro turnos.

Diretor do Centro de Operações dos Bombeiros, que atende a 2 mil ligações diariamente, o coronel Carlos Bonfim prevê melhoria no atendimento.

Sem os trotes ocupando nossas linhas, a operacionalidade será facilitada. Nenhuma viatura será enviada à toa disse Bonfim, que lida com, pelo menos, 30 saídas diárias desnecessárias por conta dos avisos indevidos passados aos 680 bombeiros atendentes.

Tijuca viveu caos em abril por causa de trote para 190

No último dia 13 de abril, cem policiais militares cercaram um prédio na Rua Henry Ford, na Tijuca (Zona Norte). Uma ligação para o número 190 avisou que havia um assalto com reféns no prédio número 220. Centenas de curiosos se aglomeraram nas proximidades, o trânsito ficou caótico, mas, ao final de uma varredura, os policiais concluíram que a denúncia havia sido mais um trote para a corporação.

A prática, infelizmente, é nacional. Em maio, uma mulher de 25 anos foi presa em São José do Rio Preto (SP), acusada de passar trotes para a Polícia Militar. Em apenas uma madrugada, ela fez 340 ligações para a polícia xingando os atendentes.

No entanto, também há casos famosos em que o preparo dos atendentes de serviços de emergência deixou a desejar. Em janeiro, o comerciante Eraldo de Jesus Santos, de 42 anos, foi morto na porta de um depósito de bebidas em Aracaju (SE), após ter sua denúncia subestimada por um atendente do 190.

Na ocasião, ele pediu ajuda porque dois motoqueiros estavam parados havia muito tempo na entrada do estabelecimento onde trabalhava. Como ele não pôde descrever os suspeitos, que estavam de capacete, nem identificar a placa do veículo, a pessoa que recebeu a ligação disse que não poderia fazer nada.

Horas mais tarde, Eraldo deixou o estabelecimento e foi morto com um tiro na cabeça pelos motoqueiros, que depois roubaram o depósito.

Técnicas ajudam a reconhecer um trote

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros já haviam padronizado algumas técnicas para identificar a veracidade da informação que vem do outro lado da linha.

No 190 por exemplo, além de passarem por um período de treinamento onde aprendem a lidar com pessoas que ligam sob forte tensão e a gerenciar crises, os atendentes, que são terceirizados, desenvolvem técnicas para desmascarar um aviso falso.

Se, aparentemente, alguém se passa por criança, perguntamos a idade, o ano de nascimento e a data. Se for mentira, geralmente a pessoa se enrola explica o superintendente de comando e controle da PM, coronel Almeida Neto. Quando identificamos que o trote vem de um orelhão, alongamos a conversa para que dê tempo de uma patrulha chegar ao ponto de origem da ligação.

No Corpo de Bombeiros, que mantém oito atendentes em cada um de seus 85 quartéis no estado, os militares trabalham com os chamados indicadores de veracidade .

Se recebemos muitas ligações de um mesmo local, temos certeza de que há, de fato, uma ocorrência ensina o diretor do Centro de Operações dos Bombeiros, coronel Carlos Bonfim. Mas, se ao solicitar socorro para um acidente grave, a pessoa demonstra calma, possivelmente trata-se de trote.

Claro que isso não se aplica aos episódios em que policiais ou médicos, que são habituados a situações extremas, fazem a ligação.

Segundo o coronel Bonfim, pessoas carentes também costumam telefonar por motivos prosaicos.

Tem gente que liga para conversar, pedir endereço de pizzaria. É cada maluco que aparece...