José Luiz de Pinho, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - A implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em nove comunidades do Rio deixou boa parte da raia miúda do tráfico sem fonte de renda. Enquanto o primeiro escalão foi acolhido por bandidos de outras favelas, a saída para muitos foi descer para praticar pequenos furtos no asfalto, assaltando transeuntes e motoristas desavisados nos sinais.
Segunda-feira, 21 jovens foram detidos na Tijuca (Zona Norte), onde a UPP do Borel foi recentemente implantada. A maioria era do bairro e tinha ficha na polícia por sequestro, homicídio, tráfico, assalto e furto. Segundo denúncias, eles atuavam em sinais de trânsito, limpando parabrisas e extorquindo ou roubando motoristas.
Sem armas
Um policial da 18ª DP informou que nenhum dos detidos usava arma.
Para evitar o flagrante, eles apontam o dedo indicador por baixo da blusa. Com medo, a vítima acaba entregando tudo explicou o policial.
No domingo, quatro membros de uma gangue que assalta usando bicicletas foram presos por policiais do 23º BPM (Leblon) no Arpoador. Todos são do Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, onde também foi implantada uma UPP.
Eles andam desarmados e atacam crianças e pessoas de idade, porque não reagem disse o comandante do 23º BPM (Leblon), tenente-coronel Rogério Leitão.
Na Barra, adolescentes da Cidade de Deus costumam se reunir em grupos para roubar.
Vi um bando cercar um carro às 15h de um dia de semana na Avenida Ayrton Sena. Um dos garotos quebrou o vidro e roubou uma bolsa conta Francisca, moradora da Barra.
Especialista em antropologia urbana e da violência da Uerj, Alba Zaluar diz que as UPPs desmobilizaram o tráfico.
Mas a criminalidade vive em alta rotatividade nas áreas onde há maior contenção da polícia.
O comandante do 6º BPM (Tijuca), tenente-coronel Luiz Octávio Lopes da Rocha Lima, enfatiza.
Reforçamos o policiamento no asfalto para reduzir os crimes.
Roubos de pequeno valor não são registrados
A diminuição da incidência de roubos a transeuntes apontada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) contrasta com a sensação de insegurança ainda vivida por moradores de vários bairros. O motivo é simples: os pequenos roubos quase nunca são registrados nas delegacias.
O professor de gestão de políticas públicas de segurança e ex-capitão do Bope, Paulo Storani, duvida dos números do ISP, que nos primeiros quatro meses de 2009 indicaram 15.288 roubos a transeuntes e no mesmo período deste ano mostram uma diminuição de 2.034 ocorrências.
Perto de 40% das pessoas não registram que foram roubadas disse ele.
Sem registro, não há crime , decretou, por e-mail, a secretaria de Segurança Pública.
A professora da Escola de Serviço Social da UFRJ, Paula Ferreira Poncioni, explica o fenômeno:
As instituições de segurança estão em crise. Não têm credibilidade, muito por conta da impunidade. A vítima questiona se vale a pena dar queixa e acaba não indo.
O presidente da Associação de Moradores e Amigos do Méier, Aníbal Antunes, afirma que, no bairro, o medo e a preocupação dos transeuntes são constantes.
Quando anoitece é pior. Mas, na Praça Agripino Griecco e nas proximidades do viaduto Castro Alves não importa a hora do dia, o risco sempre existe disse.