ASSINE
search button

Falta de lugar em abrigos: a difícil luta por um lugar e um recomeço

Compartilhar

Evelyn Soares, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Jorge Roberto de Carvalho, de 49 anos, que veio até a redação do Jornal do Brasil há cerca de dez dias reclamar que não consegue vaga em abrigo.

Nascido em Paraíba do Sul, o ex-vendedor teve estabilidade pela última vez em em Araruama. Lá, perdeu o emprego, o contato com familiares, e veio para o Rio buscar novas chances. Morou em uma pensão por cinco meses e pagava a diária com a venda de bijuterias. Por não ser um ambulante regularizado, suas mercadorias foram apreendidas duas vezes pelo Choque de Ordem. Sem o seu ganha pão, teve que sair da pensão e viver nas ruas, onde estava havia pelo menos um mês. Quase chorando, Jorge relatou que já teve roupas roubadas enquanto dormia e que temia perder a identidade civil e o CPF, os únicos documentos que possui para provar que ainda existe.

Morando na rua, eu não tenho endereço fixo para apresentar quando vou procurar trabalho. Não tenho onde dormir, tomar banho, não consigo arranjar nada disse, indignado. Ainda tenho possibilidade de entrar no mercado de trabalho, mas quem vai me aceitar?

Nas ruas, recebeu convite para empunhar um fuzil no Morro da Providência, no Centro, e para se prostituir.

Tudo o que eu quero é dignidade desabafa.

O caso de Jorge Roberto foi tratado com especial atenção: cerca de três horas após o primeiro contato com a secretaria, uma vaga foi aberta no Centro de Acolhimento Plínio Marcos, em São Cristóvão - que fica entre duas ruas movimentadas e embaixo de um viaduto. O Jornal do Brasil visitou o abrigo, na companhia de um assessor da secretaria, da diretora interina e de alguns funcionários do abrigo.

O local tem uma boa divisão entre os cômodos, todos limpos. Mas problemas foram relatados pelo ex-vendedor e confirmado por outros que vivem lá. Quando passa um veículo mais pesado em cima, o barulho do veículo entra no cômodo e o chão treme. Dos 95 homens, 39 tem algum tipo de transtorno mental, o que acaba incomodando quem é são. Muitas vezes, eles defecam no chão, o que causa um mau cheiro muito grande. Os homens também reclamam que os funcionários da noite gritam com algumas pessoas e que, quando saem, não anotam no registro, o que acaba denegrindo a imagem deles.