Manuela Andreoni, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Que se vende de tudo na Saara (Sociedade dos Amigos e Adjacências da Rua da Alfândega), todo mundo já sabe. Mas vender informação? Até isso tem. Cansados de que lhes perguntassem o tempo inteiro onde era o quê, alguns trabalhadores da região decidiram começar a faturar. O fiscal de salão Joni Bento Ferreira, 35 anos, e o estoquista Marlos Rocha, 28, são os mais famosos. Com uma caixa de papelão em que se lê caixinha de informação: obrigado pela colaboração , os dois passam oito horas por dia na esquina das Ruas Regente Feijó e Senhor dos Passos.
As pessoas vivem pedindo informação. Então, decidimos tirar um trocado. É só uma brincadeira que dá lucro. Quem não quiser, não precisa pagar explica Joni
Pimenta protege
Para proteger o lucro de cerca de R$ 60 por semana, uma pimentinha colada na aresta da caixa afasta o mau-olhado. A maioria das pessoas contribui com R$ 0,10. Riane Ferreira, 48, vendedora, provou e aprovou. Por R$ 0,50, descobriu onde era a loja Caçula:
- Eu achei ótimo. Todo mundo tem que ter criatividade para ganhar um dinheirinho na moral, né?
Marlos se orgulha da idéia:
Ninguém percebeu que isso aqui dá dinheiro!
Ele que pensa. Os vendedores de informação não são tão freqüentes, mas estão se espalhando pelas esquinas de toda a Saara e, segundo alguns passantes, foram vistos também pela Carioca. O camelô Luiz Carlos de Paulo, 39 anos, que também pede colaborações por informação, conta que o número costuma aumentar no Natal.
É como uma caixinha de Natal para chamar atenção. Muitas pessoas te pedem informação e não dizem nem obrigado critica Luiz.
Um dos lojistas entrevistados pela reportagem se disse um entusiasta da idéia. Segundo ele, as pessoas perguntam tanto que é difícil trabalhar. As informações são sobre localização de lojas, ruas e número de ônibus para diversos bairros pela cidade. Os guardas municipais abordados nunca haviam ouvido falar da prática e nem souberam dizer se ela é repreensível. O serviço, afinal, diz Marlos, é nobre:
- Tá perdido? A gente te acha!