Thiago Feres, Jornal do Brasil
RIO - Elas foram idealizadas para evitar que pedestres corressem riscos durante as travessias de ruas e avenidas movimentadas, mas, o atual estado de conservação de algumas passarelas da cidade faz com que o perigo esteja presente mesmo quando a opção é a mais correta.
Corrosões, falta de iluminação e de segurança, muito lixo, rachaduras e grades soltas são comuns em inúmeras passarelas do Rio. A reportagem do JB percorreu sete das mais importantes da cidade, e não faltaram reclamações dos usuários.
Durante a noite, essa passarela fica muito escura. Moro no prédio ao lado, e a associação de moradores daqui já fez algumas reclamações aos órgãos competentes, mas nada foi feito. A segurança também não existe. Estou cansado de presenciar assaltos entre o fim da tarde e o início da noite contou o conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura Eduardo Guimarães, 56, na passarela da Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras (Zona Sul).
Localizada próximo à Universidade Santa Úrsula, a estrutura tem rachaduras, e condutores dos fios elétricos estão destruídos.
No Centro, grande parte das passarelas é feita de ferro, por isso, o principal dano constatado é a corrosão. Na Avenida Presidente Vargas, perto da Praça Onze, a passarela é usada por muitos estudantes, já que fica em frente à UniverCidade. O abandono é evidente.
Isso aqui é um absurdo, uma vergonha. Sei que existe a previsão de uma série de mudanças na cidade para a Olimpíada, só que já passou da hora de as autoridades zelarem um pouco pelos pedestres reclamou o estudante de cinema Daniel Lerle, 20.
Estado deplorável. Se a população não pagasse impostos e não fizesse a parte dela, os órgãos responsáveis poderiam até ter alguma desculpa. As passarelas trepidam, estão corroídas, não existem policiais e o que é feito? indagou o prestador de serviços voluntários André Grachina, 24, morador da Taquara (Zona Oeste).
Na Praça da Bandeira também existem corrosões nas placas de ferro, e várias grades do guarda corpo estão soltas, oferecendo mais perigo à população, principalmente às mães com crianças pequenas.
Passo sempre com o meu filho menor por aqui, mas fico morrendo de medo. Falo para ele não tocar em nada e rezo para atravessar logo disse Jussara Souza, 38, moradora da região.
Mendigos dormindo sobre as passarelas e muito lixo foi o que a reportagem encontrou na passarela da Avenida Rodrigues Alves (Zona Portuária), em frente à Rodoviária Novo Rio. A estrutura é mais usada do que as demais, já que a via possui uma grade instalada no canteiro central para impedir travessias arriscadas.
Além dos problemas estruturais, o pedestre ainda encontra vendedores ambulantes reduzindo o espaço de passagem.
Na principal porta de entrada da cidade, na Avenida Brasil, mais danos. Infiltrações, grades de proteção quebradas e uma série de camelôs trabalhando livremente na passarela em frente à Fundação Oswaldo Cruz.
Já cheguei até a me machucar aqui por conta do precário estado de conservação do piso de cimento dessa passarela. Acabei caindo e ferindo a mão. Outro problema que é muito comum ocorrer por aqui são os motociclistas cruzando o local como se estivessem nas faixas de rolamento, sem nenhuma preocupação com o pedestre desabafou o farmacêutico Fábio Lima, 45.
Prefeitura agendou obras
apenas nas da Avenida Brasil
Diante dos problemas apresentados na reportagem, a Secretaria Municipal de Obras (SMO), responsável pela manutenção das passarelas do Rio, informou que as fiscalizações são realizadas periodicamente. De acordo com a pasta, as intervenções necessárias são avaliadas segundo critérios de urgência e disponibilidade de recursos.
Segundo a SMO, somente as passarelas da Avenida Brasil têm obras de recuperação agendadas. O trabalho vai resultar das intervenções previstas para a implantação do corredor expresso metropolitano, chamado BRT.
Sobre a passarela da Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras (Zona Sul), a secretaria disse que encaminhou o caso para a Rio Luz, que, por sua vez, prometeu realizar uma vistoria no local para avaliar a possibilidade de desenvolver um projeto de instalação de projetores capazes de iluminar toda a extensão da travessia.
Apesar dos buracos e da ferrugem na estrutura, a SMO informou que a passarela da Praça da Bandeira foi recuperada recentemente pela Comlurb. A da Avenida Rodrigues Alves onde as grades do guarda-corpo estão arrebentadas recebeu reformas em setembro de 2006. A manutenção e os reparos necessários desses espaços, segundo a secretaria, são promovidos pela Coordenadoria Geral de Projetos, órgão subordinado à SMO.
Passarelas sem policiamento
Quanto à falta de policiais militares nas passarelas, denunciada por pedestres, a assessoria de imprensa da Polícia Militar reconheceu que a corporação não possui uma ação específica para essas áreas. O trabalho de segurança aos usuários, segundo a PM, é feito por meio de patrulhamentos de rotina realizados ostensivamente nos arredores das estruturas.
De acordo com a PM, somente as passarelas da Avenida Brasil recebem tratamento diferenciado. Por conta dos abusos de motociclistas que insistem em utilizar a via dos pedestres para cortar caminho, um efetivo complementar foi destacado para coibir essas infrações. Os policiais trabalham em duplas, nos horários de maior movimento na via, das 6h às 10h e entre 16h e 20h. A ação, segundo a assessoria da Polícia Militar, resulta semanalmente no registro de 25 infrações, entre apreensões das motos e multas aos condutores.