Fernanda Malta, Jornal do Brasil
RIO - De acordo com a definição das Nações Unidas, o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos(...) Na cidade do Rio, 1.750 pessoas trabalham como voluntárias nas escolas públicas do município. O Programa de Reforços na Escola teve início em abril, quando a Secretaria Municipal de Educação abriu inscrições para receber qualquer pessoa interessada nesta missão, desde que tivesse o ensino médio completo. Foram 3.850 candidatos, dos quais 1.750 selecionados.
O motivo que mobiliza alguém em direção ao trabalho voluntário é, entre outros fatores, o grau de comprometimento com uma causa. A aposentada Sandra Maria Lima, mãe de dois filhos de 41 e 32 anos, trabalhava em um salão de beleza quando encontrou um bebê abandonado na porta do trabalho. Comovida, passou a cuidar de Andreza, hoje com nove anos. Aproximar-se novamente de crianças fez Sandra praticar o altruísmo e a solidariedade, primeiro passo para que, mais tarde, desenvolvesse o trabalho voluntário.
Levei o neném, de quatro meses, para casa e depois de algum tempo, consegui, na Justiça, a guarda definitiva. Alguns meses depois, descobri que o pai da criança era o meu filho, sou mãe e avó ao mesmo tempo. Tudo isso me inspirou muito a voltar a ter contato com os menores. Adoro as expressões deles quando conto uma história ou vejo seus desenhos criativos.
Hoje, Sandra é mãe-voluntária, das 5h30 às 15h30, na Escola Municipal Vivaldo Ramos de Vasconcelos, em Paciência (Zona Oeste), onde a filha estuda.
Um dos responsáveis pela triagem dos voluntários nas escolas do Rio foi o assistente da gerência de educação, Ari Marques Pontes.
Nossa maior preocupação foi com a aceitação dos pais. A princípio, cada escola teria apenas dois voluntários. Mas, a reação foi tão positiva, que hoje temos em média quatro voluntários por unidade.
Ari conversou individualmente com cerca de 300 pessoas para explicar o planejamento, definir como deveriam atuar e apresentar as dificuldades de cada aluno.
Os voluntários não substituem os professores. Eles são explicadores e trabalham com os cadernos de reforço escolar. São fundamentais.
Trabalho homenageado
Há uma semana, os voluntários tiveram o esforço reconhecido pela Câmara de Vereadores. O autor da homenagem, Paulo Messina (PV), explicou que, para diminuir a defasagem dos estudantes, os colaboradores foram divididos em categorias: Reforço Escolar, para alunos atrasados; Mãe-educadora, quando há a presença da família na escola; e Sala de Leitura, que ensina português e interpretação.
Tinha aluno concluindo o ensino fundamental sem saber ler. Os voluntários ajudam a enfrentar esse problema diz Messina.
Na homenagem, a secretária de Educação Claudia Costin ressaltou a importância desse trabalho.
Os voluntários são uma peça importante no salto de qualidade da educação carioca.
Desafios
O dia a dia nas escolas, apesar de gratificante, é carregado de desafios. O médico aposentado Jayme Gudel, sai de casa, no Flamengo, todas as quintas-feiras, rumo à Escola Municipal Roma, em Copacabana, para oferecer palestras a alunos de oito a 14 anos. Diz que o mais difícil é prender a atenção dos jovens.
Tento abordar assuntos diferentes, mas alguns não prestam atenção. Já tive que trocar os alunos mais afoitos de lugares e já até sentei na mesa de um deles para ver se conseguia atenção. Levo tudo isso com bom humor diz o voluntário.