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Polícia encontra mais uma 'UPA' do tráfico

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Mário Hugo Monken, JB Online

RIO - Depois de acharem duas enfermarias no Jacarezinho e em manguinhos (Zona Norte), policiais civis descobriram nesta sexta-feira, no Morro da Coroa, em Santa Teresa, uma oficina em que eram feitos conserto e manutenção de armas de traficantes.

A oficina e as enfermarias, segundo policiais, evidenciam a estrutura profissional dos traficantes, que investem ainda mais em organização como forma de ampliar seus lucros e ficarem protegidos.

Além das enfermarias, os policiais da Delegacia de Combate as Drogas (Dcod) têm informações de que os bandidos possuem também centros de reabilitação, onde bandidos feridos em confrontos se recuperavam. Uma dessas unidades funcionaria na Favela da Rocinha, em São Conrado e outra na Vila Cruzeiro, na Penha.

Segundo a polícia, os feridos a tiro recebem os primeiros-socorros em enfermarias improvisadas na própria favela e, em seguida, são transferidos para serem cuidados por médicos, em locais geralmente de difícil acesso.

Além da oficina, os policiais da Dcod apreenderam na Coroa um fuzil AK-47 (fabricação russa) banhado a ouro, além de oito granadas, pistola, escopeta, armas desmontadas, lunetas, 33 radiotransmissores, contabilidades do tráfico, munições para fuzil, roupas com emblemas da Polícia Civil e material para embalar drogas. Na ação, houve tiroteio sem feridos.

As oficinas do tráfico contam com peritos de fora. Ex-militares atuam como armeiros. Segundo agentes, as oficinas surgiram pelo fato de os traficantes adquirirem muitas armas antigas nos países vizinhos e elas quase sempre necessitarem de reparos.

As oficinas têm outra finalidade. Diante da dificuldade em se conseguir armas no exterior, os traficantes começaram, nesta década, a fabricá-las. Nos últimos meses, foram apreendidas duas metralhadoras artesanais do tipo Uzi. Fuzis produzidos com canos de bicicleta também já foram achados em favelas.

Além de contratar ex-integrantes das Forças Armadas, nos últimos anos os bandidos também passaram a contar com eles para ensinar táticas de guerrilha. Além de treinamentos em matas que facilitam a invasão de redutos inimigos, esses militares trouxeram a ideia das barricadas nas ruas, óleos na pista, além das casamatas (grandes muros de concreto com buracos para observação).

Segundo investigadores da Dcod, a última tática adotada é atirar em moradores e botar a culpa na polícia. Com isso, eles conseguem evitar que as incursões sejam proteladas durante algum tempo.

De olho em mais lucro, os traficantes do Rio passaram a importar a pasta-base de cocaína e criaram refinarias nas favelas. Até há pouco tempo, a transformação da pasta em cocaína só era feita em São Paulo. Segundo o setor de inteligência da polícia, os bandidos contrataram um químico que fazia esse trabalho, que lhes ensinou a técnica. Com isso, o refino passou a ser feito no Rio.

Outro exemplo da profissionalização foi a criação de uma estrutura hierárquica. Os agentes da Dcod informam que as quadrilhas possuem cargos vapor, soldados, olheiros, gerentes, entre outros cada um com seu salário e função definida, inclusive com ascensão hierárquica.

Lazer

Com a intensificação dos grampos telefônicos, aumentou-se o risco de prisão. Sentindo-se mais seguros dentro da favela, os traficantes passaram a construir academias e centros de lazer como o piscinão do Jacarezinho para se divertir.

Os traficantes também diversificams. Controlam o transporte alternativo, Montam centrais de TV a cabo clandestinas e cobram mensalidades dos moradores, além de dominarem também a venda de gás nas comunidades, que é comercializado com ágio para garantir o lucro aos bandidos.

Os bandidos ainda controlam a entrada de serviços públicos na comunidade. Estabelecem horários, por exemplo, para as empresas de telefonia e de coleta de lixo trabalharem.

No caso da entrega de cartas, exigem que o profissional seja conhecido e, quando este não pode trabalhar, determinam que o novo carteiro seja apresentado antes.