Felipe Sáles, JB Online
RIO - Os pais da estudante de administração Karla Leal dos Reis, 25 anos - assassinada domingo durante um assalto no Estácio, próximo à sede administrativa da Prefeitura do Rio - voltaram nesta terça-feira à 6ª DP (Estácio) para novo reconhecimento de Augusto César de Souza, 27 anos, autor do disparo. Os pais da menina choraram ao ver o acusado, que já tem sete passagens pela polícia, além de ter cumprido medidas sócio-educativas durante a adolescência. Outros dois suspeitos não foram reconhecidos pela família da vítima. Segundo a polícia, assim como Augusto, os foragidos também seriam viciados em drogas, possivelmente crack, seriam menores de idade e também morariam nas ruas.
- Augusto é viciado em drogas, principalmente crack. Temos indícios para afirmar o mesmo dos outros foragidos. A qualidade da arma, o jeito físico e a forma de abordagem nos levaram a crer que se trata de outros dois moradores de rua - afirmou o delegado-titular Rodolfo Waldeck. - O crime reforça a importância do choque de ordem, e a Polícia Civil também está empenhada nisso.
Acusado já ficou em cinco presídios diferentes
Augusto será indiciado por latrocínio (roubo seguido de morte) depois de ter ficado por várias vezes sob a custódia do estado. Só na fase adulta, ele já foi preso cinco vezes por roubo, uma por furto e outra por atentado ao pudor. O criminoso esteve quatro anos preso em cinco presídios diferentes do estado e estava em liberdade condicional. Os últimos quatro anos Augusto passou em Bangu 2, mas também esteve na Polinter, Água Santa, 20ª DP (Vila Isabel) e 64ª DP (Vilar dos Teles). Pelo crime de latrocínio, Augusto poderá pegar de 20 a 30 anos de prisão.
A partir da suspeita de que se tratava de moradores de rua, agentes da 6ª DP foram a diversos locais e, de informação em informação, encontraram Augusto por volta das 22h30 de segunda-feira na Praça da Cruz Vermelha, no Centro.
Após denúncia anônima, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) localizou outros dois suspeitos nesta terça-feira. Os pais da vítima analisaram os rostos dos dois durante meia-hora, mas eles não foram reconhecidos e foram liberados. Não há outras testemunhas do crime e nenhuma câmera da região ajudará a polícia. As do MetrôRio teria dado defeito no HD na sexta-feira, enquanto as do Correios não funcionam há seis meses.
Assassinato para levar três celulares e R$ 20 em moeda
Na bolsa que Augusto havia levado de Karla havia apenas três celulares e R$ 20 em moedas. Os bandidos ignoraram, por exemplo, uma calculadora técnica que seria mais valiosa do que os pertences levados. Karla pediu para ficar com a bíblia e o crachá da empresa, o criminoso teria se assustado e dado um tiro à queima roupa.
Os pais de Karla estão muito abalados e não falaram com a imprensa. Eles moram numa área de risco na Estácio e temem algum tipo de represália. A mãe da menina, Ionete Leal, trabalhava 12 horas por dia numa loja de produtos de R$ 1,99 para pagar a faculdade da menina, que era a única filha do casal. Karla frequentava uma igreja evangélica na Penha, Zona Norte, enquanto os pais visitavam outra na Praça da Cruz Vermelha, onde o assassino da filha costumava ficar. A família voltava do culto na igreja frequentada pela filha quando o crime aconteceu.
Augusto não assumiu a autoria do crime, mas a polícia não tem dúvidas. Ele não tem quatro dentes da frente - conforme descrito pelos pais da vítima - e apresentou contradições no depoimento. Primeiro ele disse que, no dia do crime, tinha ido visitar a mãe, e em seguida disse que não a via há mais de cinco anos. Sua família seria de Coelho Neto, Zona Norte, e ele nas ruas desde a adolescência. Na segunda-feira, ele se cortou ao raspar o bigode, segundo a polícia, para despistar depois de ver a repercussão do caso na mídia.