Bruna Talarico, Jornal do Brasil
RIO - Os novos empreendimentos que ancoraram na Urca, ícone do bucolismo no meio do caos carioca, dividiram o bairro em duas correntes. A segregação é bem definida: enquanto uma parte apoia a integração do bairro ao resto da cidade a partir da chegada do Instituto Europeu de Design (IED) e do Bar Belmonte, outra parcela de moradores vê nos novos vizinhos a personificação da intrusão e falta de respeito, reforçada pelo aumento do número de moradores de rua notado após o início das operações de Choque de Ordem em Copacabana e Ipanema.
É uma total falta de diálogo e respeito com o morador da Urca, e especialmente de um dos primeiros prédios do bairro resume a bióloga Sueli Caldas, 60 anos, moradora há 40 da Urca e síndica do Edifício Urca, sob o qual o Bar Belmonte está instalado. Já não temos calçada, porque os clientes ficam do lado de fora, de pé, em volta de mesas improvisadas com galões de chope.
A terapeuta Márcia Luvizoto, que mora no mesmo prédio, reclama do barulho na madrugada.
É impossível dormir diz.
A presidente da Amour (Associação de Moradores da Urca), Celinéia Paradela, faz coro com Sueli e ressalta que os novos empreendimentos causam, desconforto e evasão de moradores antigos.
Queremos preservar a qualidade de vida na Urca. E, com esses novos estabelecimentos, tem muito morador vendendo a casa e se mudando aponta. Não temos nada contra a vinda das pessoas de fora, porque a Urca é do carioca, do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo. O que a gente não pode é compactuar com essa lotação despropositada das ruas, que são pequenas.
Do outro lado da mureta, moradores acreditam que o bairro está se revitalizando com os investimentos. Para o arquiteto Sávio Visconti, 73 anos, que mora na Urca desde que nasceu, nenhuma das previsões negativas se concretizou. Ele diz que a oferta de vagas para carros não diminuiu, e que o movimento no Bar Belmonte, por exemplo, é o mesmo observado no Garota da Urca.
Passo pelo Belmonte sempre, e vejo que a maioria dos freqüentadores mora na Urca ressalta. E o IED veio e deu vida nova àquilo ali, que estava abandonado. Quanto aos mendigos, eles começaram a chegar há algum tempo, bem antes das operações de choque de ordem começarem.
Quem apoia o arquiteto faz, em sua maioria, parte do comércio local. Fátima Maria da Silva, 55 anos e há 35 moradora do bairro, é dona de um salão de beleza e acha que a chave para o problema seja organização.
A Urca tem que se animar, movimentar instiga. O bairro está morto, e tem gente que se esquece que aqui já teve cassino e televisão.
A advogada Ivonne Brandão prefere criticar o aumento da população de rua após o choque de ordem em outros bairros:
Quero ver essas operações de recolhimento aqui também.