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Velhas barbearias sobrevivem ao tempo

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Bruna Talarico, Jornal do Brasil

RIO - Elas estão escondidas em pequenas galerias e sinalizadas por letreiros antigos. Seus donos têm mais idade que o mobiliário, conservado, com cadeiras e máquinas registradoras de mais de meio século. Nelas, não entram mulheres, a clientela é familiar e fiel, e a única forma de pagamento é o dinheiro. Mas, apesar de parecer distante no tempo, a descrição acima pertence a um reduto exclusivamente masculino e em extinção em grandes cidades como o Rio de Janeiro.

Só que, em alguns bairros da cidade, as barbearias tradicionais ainda resistem ao passar dos anos e aos modernos serviços oferecidos pelos grandes salões de beleza.

É aquele caráter familiar, de tradição. Quando não é o pai que leva o filho, o cliente recomenda para o amigo explica Wanderley Garcia, 51 anos, um dos donos de uma pequena barbearia no Flamengo. Os clientes são sempre os mesmos, e chegamos a atender até a quinta geração de fregueses.

O costume com o serviço personalizado dos barbeiros é o caso de Frederick Croschkocick, 38 anos. Levado à barbearia pelo pai quando tinha somente 7 anos, garante que não há opção melhor.

Nunca cortei diferente, e eles já sabem como é o cabelo da gente aprova o cliente, que pelo menos uma vez por mês visita o lugar. Cabelo de homem cresce muito rápido.

E não pesa no bolso cortar sempre que cresce. Ao contrário da maioria dos grandes salões de beleza, os preços em vigor nas barbearias são baixos e atraem mesmo os visitantes corriqueiros.

Tem aqueles que moram na área, mas também vem bastante turista ressalta Otávio Barbosa, 77 anos, dono de uma barbearia cercada de hotéis em Copacabana. Eu não entendo muito o que eles falam, mas a gente tem prática no trabalho, então sai tudo certo. Tem turista que só vem uma vez, mas tem aquele que volta porque gosta do serviço. O clima aqui é aconchegante.

Mesmo agradáveis, as barbearias enfrentam hoje problemas decorrentes dos novos mercados. A explicação para o número reduzido na cidade de salões desse tipo, exclusivos para homens, é simples. Sem os clientes mais antigos, que já morreram, e com a mudança de endereço de muitos outros, os pequenos negócios têm que funcionar à base dos fregueses mais fiéis.

Ainda tem aqueles que não cortam se não for com a gente garante Otávio Fernandes, 77 anos, barbeiro e dono, com o irmão Anísio, 80, de uma casa em Ipanema. Às vezes, vamos cortar na casa das pessoas, porque alguns clientes são muito velhinhos.

Barba, cabelo e bigode

Nem só de cortes de cabelo sobrevivem as barbearias. Nelas, uma modalidade quase extinta hoje em dia ainda é bastante praticada: a barba feita à navalha, com direito a creme e visual de Papai Noel. E, segundo dizem clientes e profissionais, faz sucesso mesmo com a concorrência do serviço caseiro.

Eu adoro, é super simples, e vem da raiz do trabalho, que é o mais completo que tem justifica Pedro Paulo, 58 anos, acrescentando que não arrisca tentar em casa. Às vezes, estou viajando, mas nem assim tento. Deixo a barba crescer para fazer aqui.