Bruna Talarico, Jornal do Brasil
RIO - O dia da empresária Renata Garofalo, 32 anos, começa cedo. Às sete da manhã ela acorda o filho Miguel, de 2 anos e meio, serve o o café-da-manhã e sai correndo da casa, em Vila Isabel, para deixar a criança na creche, na Pechincha.
Depois parte para a Taquara, onde tem um escritório, pega seu material de trabalho e vai para a rua. Às 19h, após um dia de vendas pessoais e consultoria de imóveis, que a levam por toda a cidade, volta para casa para lavar e passar roupa, cozinhar, cuidar do filho e fazer companhia ao marido, Alexandre Nascimento, 35 anos, que tem uma rotina tão intensa quanto à sua.
Protagonista de dia-a-dia atribulado, no qual o papel de mãe, mulher, trabalhadora e dona-de-casa se misturam o tempo todo, Renata é uma das cerca de 11 milhões de mulheres responsáveis por domicílios em todo o país, de acordo com o último censo do IBGE.
Elas representam um novo modelo da antiga Amélia, cujo dia foi comemorado na última sexta-feira, dia 31 de outubro, sem que ninguém lembrasse, e que agora deixa a tranquilidade da casa para tentar ganhar espaço e reconhecimento na sociedade.
Não é mole não. O Miguel sente falta de mim e do Alexandre, que trabalha fora de dia e faz faculdade de noite conta a dona-de-casa, que apesar de acreditar que a pressão e o caos constituam apenas uma fase, se sente no limite e deixada de lado nas próprias prioridades.
É difícil, mas a gente tenta ser uma supermulher. Eu posso dizer que estou anestesiada, já faço as coisas no automático. Quando deito na cama, bato e durmo de tão cansada. Mas não me considero estressada, e sim estafada.
Para a socióloga Bila Sorj, a adoção pelas donas-de-casa modernas de atividades profissionais no setor informal é decorrente de uma preocupação cada vez maior com a família, já que o horário passa a ser flexível e a mulher pode se dedicar também à casa, aos filhos e ao marido.
Ainda segundo a socióloga, o panorama
da dona-de-casa de hoje pode ser representado pela dedicação não mais exclusiva às tarefas domésticas, que perdem espaço para os cuidados com os filhos e com o lar.
A dona-de-casa moderna vive hoje uma situação de maior pressão e estresse. Apesar da inserção da mulher no mercado de trabalho, ela ainda continua responsável pela realização de todas as tarefas de casa e de cuidado com os filhos praticamente sozinha afirma Sorj, que acredita que a mulher passou a conciliar as atividades remuneradas com as de casa por conta de uma crise generalizada.
A sociedade aceita e entende esse contexto, já que a mulher não conta com a ajuda do Estado ou mesmo do parceiro para cuidar da família. O que também faz com que a mulher encare essa enorme dificuldade como uma coisa positiva.