Cecília Abreu, JB Online
RIO - Carlos Drummond de Andrade sentado lá no posto 6 de Copacabana só não enxerga mais o sumiço das pedras portuguesas do bairro, porque andam roubando seus óculos. A Princesinha do Mar vem sofrendo com os maus tratos às suas lendárias calçadas. Seus moradores e visitantes têm motivos para reclamar, principalmente a turma da terceira idade, uma vez que 27% de seus habitantes têm acima de 60 anos.
As dificuldades de transitar pelas ruas, devido aos buracos e desníveis do piso, estão entre as principais queixas dos idosos. Em 2007, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou a constatação do estado das calçadas e o descontentamento da população através da pesquisa "Cidade Amiga do Idoso". Copacabana foi o representante brasileiro no estudo.
Foto: Cecília Abreu
Não são poucos os pontos em que se percebe não só a falta de pedras, causando buracos e irregularidades no piso, como também pontos de descaracterização, pela reposição inadequada das pedras.
Buracos, os maiores inimigos de saltos e bengalas
O problema é bem ilustrado por uma vítima das calçadas, a idosa que se identificou apenas como Dada, de 84 anos, e disse que já caiu oito vezes devido às calçadas esburacadas.
- Tenho problemas nos dois joelhos por causa dessas quedas e já tive até que levar pontos no queixo. Foram oito tombos, todos aqui em Copacabana, por conta desses buracos. Fico imaginando essas jovens que usam saltos altos. Elas devem sofrer tanto quanto os idosos e os deficientes físicos reclama Dadá.
Foto: Cecília Abreu
A estudante de psicologia Carolina Prates adere o coro.
- Andar de salto alto em Copacabana chega a ser uma arte. A Arte do se manter em pé. Vários taxistas parados em pontos já tiveram que me ajudar, quando caí ou me desequilibrei. Tenho amigas que já torceram o pé ou perderam parte dos saltos explica a moradora.
Em Copacabana, a fiscalização é feita pela 4ª Gerência de Conservação (Copacabana, Leme e Urca), que conta com 4 fiscais, conforme informações de seu coordenador, Amos Rymer.
Para o coordenador este é um problema complexo, em que vários fatores interferem.
- O surgimento dos buracos se deve a inúmeros fatores. São várias interfaces envolvidas. Além dos proprietários, condomínios, estabelecimentos comerciais e concessionárias, que não fazem a reposição adequada das pedras, há também muitos feirantes que fixam suas tendas no chão e acabam destruindo as pedras portuguesas. Sem contar que raízes de árvores e chuvas também contribuem para que as pedras se soltem afirma.
Foto: Cecília Abreu
Descaracterização e cimento tiram a beleza do bairro
Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, muitos moradores lamentam a perda de grandes trechos em pedras portuguesa depois das obras do Rio-Cidade. Na época, a explicação dada para a retirada foi a falta de pedras para reposição.
- Nasci e morei em Copa praticamente a vida toda. Quando o Rio Cidade começou, nem podia acreditar que estavam arrancando as pedras portuguesas da Avenida Nossa Senhora, achei tudo um desastre, pois as pedras são um charme à parte. A Avenida Nossa Senhora ficou muito cinza, com tudo cimentado. Deu um ar de sujo, encardido. E nem assim os buracos sumiram. Isso sem falar da orla, principalmente próximo aos prédios. É uma buraqueira só. As ruas secundárias, a mesma coisa, como a Leopoldo Miguez e a Constante Ramos também - lamenta a aposentada Gilda Copelo.
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Foto: Cecília Abreu
Foto: Cecília Abreu
- As pessoas se espantavam ao ver as fotos que tirei do chão com pedras portuguesas, pois nunca tinham reparado na variedade de padrões que existiam. Os poucos pontos onde ainda há pedras portuguesas, elas perderam sua identidade, estão mal arranjadas afirma a moradora do bairro, Ana Cristina Cosme.
Manutenção e fiscalização devem ser constantes
A manutenção do calçamento é uma tarefa permanente que não dá trégua, mas que não tem sido feita de maneira regular e contínua ao longo dos anos.
- Isso envolve um trabalho incansável e ininterrupto de vigilância, de controle, de manutenção. Não pode ser algo que se faz como um projeto que tem começo, meio e fim. A preservação das calçadas deve ser um projeto permanente, não pode ser atrelada a certos períodos e depois esquecido afirma o presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães.
Foto: Cecília Abreu
Magalhães aponta ainda que a situação já foi mais crítica, pois até 2007 os investimentos visaram principalmente os Jogos Pan Americanos e depois houve praticamente um abandono da cidade, mas que há cerca de um mês foram retomadas algumas ações de manutenção e controle.
Rua-modelo: iniciativa inócua
A prefeitura pretendeu fazer da Rua Rodolfo Dantas um modelo de acessibilidade para idosos e pessoas portadoras de deficiências. Houve adequação de piso, rampa, sinalização. Os moradores, entretanto, reclamam que a iniciativa é inócua, num bairro com 100 quarteirões em 78 ruas, 5 avenidas, 6 travessas e 3 ladeiras.
- Acho ótimo que essa iniciativa esteja ganhando cada vez mais força. Mas isso deveria se espalhar pelo bairro todo e até mesmo em outras localidades, não só em uma rua. As pessoas se locomovem e não ficam concentradas somente em uma rua analisa Magalhães.
Os direitos do cidadão
As pessoas que forem vítimas de acidentes por causa das más condições das calçadas podem acionar judicialmente a prefeitura. È preciso que haja testemunhas do ocorrido e comprovação do dano causado pela queda, como laudos de exames e relatório de atendimento médico. As delegacias podem fazer o registro da queixa.
As denúncias de danos às vias públicas (calçadas e ruas) ou pedido de reparo nas mesmas, podem ser feitas através do sistema de ouvidoria da prefeitura, no endereço: https://www21.rio.rj.gov.br/siso/internet/ouvidoria.htm.
Além disso, existe o tele-atendimento da SMO, o Tele-buraco (21) 2589 -1234, que funciona das 7h às 17h, de segunda à sexta-feira, ou ainda através do envio de e-mail para a gerência de conservação da SMO correspondente ao bairro em que se quer fazer a queixa.
No caso específico de Copacabana quem administra e fiscaliza as ruas e calçadas, é 4ª Gerência de Conservação da SMO, o e-mail de lá é: [email protected]. O telefone é: 2244-0170 ou 2244-0171.