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Abandono de animais domésticos cresce no país

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Cecília Abreu, JB Online

RIO - O melhor amigo do homem e os espertos felinos de sete vidas gritam por atenção. O número de animais abandonados cresce a cada dia, os poucos abrigos que existem estão superlotados. As inúmeras ONGs e entidades de proteção lutam com dificuldade contra o descaso das pessoas e a falta de apoio do governo.

Projeções com base em estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que existam cerca de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães no Brasil, dos quais uma parcela expressiva em situação de risco ou abandono. Muitos acabam por morrer de fome ou são atropelados e feridos nas estradas e ruas, enquanto vagam em busca de alimentos e de abrigo.

Os números não escondem: a situação é alarmante para os abrigos, que trabalham sempre acima de sua lotação. Somente a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), o maior abrigo existente no Rio, recebeu em 2007 um total de 15.123 animais, os chamados sobrinhos , dos quais 7.956 cães e 6.805 gatos, em sua maioria filhotes, além de 362 de outras espécies. E em apenas 10 dias de dezembro do ano passado, foram registrados 906 abandonos, quase todos filhotes de cães e gatos. Os motivos alegados para o abandono são quase sempre os mesmos, desde fatores econômicos até a falta de conscientização e sensibilização por parte dos donos.

- A Suipa recebe em média 60 animais abandonados por dia. As pessoas precisam entender que ter um animal é decisão para o resto da vida. Um cachorro, por exemplo, pode chegar até 20 anos de idade. Todos têm de pensar a longo prazo e não exclusivamente naquele momento, agindo por impulso. Devem pensar previamente nas férias, nas despesas de saúde e alimentação do animal - alertou Izabel Cristina Nascimento, presidente da Suipa há 15 anos.

Valdomiro de Andrade, morador de Cascadura, confirma o extenso número de animais que chegam à entidade:

- Tenho 42 bichos em casa, entre cães e gatos. Não dá para ter mais. Hoje mesmo, trouxe uma cadela que deixaram lá na rua, com oito filhotinhos. Aliás, acho que já trouxe mais de mil animais de rua aqui para a Suipa. Há muitos anos eu faço isso, não dá para largar o bichinho assim, para morrer emociona-se.

A falta de controle na venda de animais, tanto no comércio quanto nas ruas e o descaso da população, que reluta e não esteriliza suas cadelas e gatas, são as duas principais causas do alto índice de animais domésticos abandonados tanto nos abrigos particulares quanto nas ruas e nos centros de controle de zoonoses municipais.

'Carrocinhas' eram as vilãs dos animais

No Rio de Janeiro, as ações de controle do governo são executadas pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), em parceria com a Secretaria Especial de Proteção e Defesa dos Animais (SEPDA). A criação do CCZ teve como foco principal a Profilaxia da Raiva e posteriormente suas atividades de controle e fiscalização na área animal foram ampliadas.

Durante décadas o CCZ foi considerado por muitos como um grande vilão, aquele que capturava animais das ruas com a carrocinha para sacrificá-los. Atualmente o discurso do órgão público mudou e destaca a procura do bem estar animal e não mais simplesmente o controle da raiva (que, aliás, está erradicada há mais de 10 anos) e nem a eliminação de animais doentes ou abandonados, salientou George França de Araújo, diretor do CCZ Paulo Darcoso Filho, situado em Santa Cruz, na Zona Oeste e o único do município.

- Os tempos são outros, é preciso educar a população para a Posse Responsável, além de facilitar a esterilização e estimular a adoção. As carrocinhas não existem mais. Temos viaturas que fazem recolhimento seletivo. Resgatamos animais doentes, abandonados, agressores ou agressivos. Nossas ações partem sempre de denúncias da própria população sobre maus tratos e abandono afirma França.

Apesar das estatísticas alarmantes de abandono, também cresce a sensibilização e o envolvimento de pessoas com a proteção dos animais. Assim, são incontáveis os Fotologs, Blogs e comunidades no site de relacionamentos Orkut dedicados, principalmente, à adoção. Esses grupos agem por genuíno amor aos animais, procurando ajudar a diminuir o tamanho do problema que já existe.

Entre as entidades organizadas existentes no Rio, a ONG Oito Vidas, que funciona na Gávea, é dedicada principalmente aos gatos, embora ocasionalmente atenda outros pequenos animais, como cachorros ou coelhos. Foi fundada por duas amigas que amam os bichos, a odontopediatra Lílian Queiroz e a advogada Cristina Palmer, com inspiração na Feral Cat Coalition de San Diego, nos Estados Unidos (https://www.feralcat.com/).

A ONG estimula a adoção e faz intervenções diretamente nas colônias onde os gatos abandonados vivem e costumam se reproduzir desordenadamente. Os animais são então esterilizados, vacinados, vermifugados, e em seguida devolvidos ao mesmo local, sob supervisão e cuidados. Assim, a ação tem como objetivo evitar o sofrimento com a superpopulação dos abrigos e a proliferação da colônia. Além disso, a ONG também recebe e cuida dos animais trazidos por voluntários cadastrados, colocando-os em lares provisórios enquanto aguardam lares definitivos. Contam também com alguns veterinários voluntários, que dão assistência aos animais.

- Não queremos levantar bandeira contra os abrigos. Cada entidade protetora dos animais tem sua própria filosofia e maneira de atuar. Acreditamos, porém, que o confinamento faz mal aos bichos. Aglomerados e sem espaço, eles acabam estressados e deprimidos. Procuramos conscientizar e modificar a atitude das pessoas que vivem próximas aos locais onde há colônias de gatos esclarece Lílian.

Os interessados em ajudar podem se cadastrar através do site: https://www.oitovidas.org.br.