Jaime Gonçalves Filho, Agência JB
RIO - Pela quarta vez consecutiva foi adiado o julgamento de dois policiais militares acusados de participar da Chacina da Baixada, ocorrida em 31 de março de 2005 e que deixou 29 pessoas mortas. A 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio expediu liminar suspendendo, na noite de sexta-feira, o julgamento do ex-soldado Fabiano Gonçalves Lopes, que seria realizado nesta segunda-feira, no Tribunal do Júri de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Fabiano seria julgado conjuntamente com o cabo José Augusto Moreira Felipe. No entanto, o defensor público deste último, Ronaldo XXX, alegou não ter tido tempo hábil para ler os 33 volumes do processo, já que havia sido designado para a tarefa apenas no dia 28 de setembro, data da publicação no Diário Oficial, e pediu adiamento para 10 de dezembro.
A defensora pública Gláucia Silva reivindicou que o julgamento de seu cliente, Fabiano, fosse mantido para esta segunda-feira. O pedido foi aceito pela juíza Elizabeth Machado Louro, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, mas a liminar do TJ adiou ambos os julgamentos para o dia 10 de dezembro.
- Por que o réu Fabiano não pode ser julgado hoje? Está acontecendo aqui o mesmo que aconteceu nas chacinas de Vigário Geral e da Candelária protestou Gláucia Silva, ainda durante a audiência. Ao JB Online, a defensora sugeriu que Ministério Público estivesse fazendo uma manobra para que o reú José Augusto fosse julgado antes de Fabiano.
O promotor Fábio Muniz ressaltou que os réus são conhecidos na região da Baixada por agirem em conjunto e que, também por esta razão, seria importante que fossem julgados desta maneira.
- Aí é que está o pulo do gato. Os réus eram publicamente conhecidos como Cosme e Damião, ou Roberto e Erasmo. Não há o porquê serem julgados em separado devolve Muniz, acrescentando que é interesse da defesa ver o processo desmenbrado. - Todos nós estamos reféns desse processo. Mas os sucessivos adiamentos deste processo não podem ser imputados ao Ministério Público.
A própria juíza, Elizabeth Louro, disse ter sabido do adiamento quando já se dirigia ao Fórum. Ainda durante a audiência em que foi anunciou a decisão da Justiça de adiamento conjunto, a defensora Gláucia Silva se disse indignada e revelou ter cancelado vários compromissos profissionais e pessoais, além de ter cancelada suas férias por duas vezes.
- Morreram 29 pessoas que deixaram várias famílias destruídas e elas está preocupada com as férias dela, com a viagem dela. Isso é uma vergonha, uma falta de respeito afirmou a dona-de-casa Luciene Silva, de 42 anos, que perdeu o filho Raphael Silva Couto na chacina.
Inicialmente irritada com a suspensão repentina do julgamento, Rosângela Vasconcelos, cujo o irmão Fábio Vasconcelos está entre as vítimas, depois disse compreender a decisão da Justiça.
- É chato porque as pessoas se mobilizam, faltam trabalho, seus compromissos, para estar aqui e, na hora, nada acontecer. Mas se isso é para fazer eles serem julgados juntos, acho que vale disse Rosângela, que afirmou estar torcendo para que o julgamento de 10 de dezembro se concretize.