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Perfis na berlinda: Witzel e Paes chegam ao 2º turno trilhando trajetórias políticas bem distintas, mas com algo em comum

Divulgação -
Paes inaugura a praia artificial no Parque Madureira, na Zona Norte
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Candidato do Crivella contra o candidato do Cabral. As alcunhas foram dadas, mutuamente, pelos candidatos ao governo do Rio, respectivamente, Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM), ao longo da campanha eleitoral. O primeiro, de “ilustre desconhecido”, obteve no primeiro turno 41,28% dos votos contra 19,56 % do adversário. No segundo turno, nos debates travados entre eles, o que menos se viu foi discussão de propostas. Na maior parte do tempo, cada um se dedicou a cutucar o “calcanhar de Aquiles” do outro. Witzel se esgueirou de responder sobre suas relações com Mário Peixoto — empresário que tem R$ 1 bilhão em contratos com o governo e é investigado por pagar um mensalão aos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado; Luiz Carlos Azenha — advogado condenado por esconder o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, no porta-malas do carro, numa tentativa de escapar do cerco da polícia —; e o próprio ex-governador Sérgio Cabral, antes de ser preso, para se aproximar do então PMDB. Coube a Paes explicar por que sua candidatura está garantida por uma liminar do TSE. Outros temas que rondaram o candidato do DEM dizem respeito a denúncias de superfaturamento em obras realizadas quando era prefeito do Rio e à delação premiada de seu ex-secretário de Obras, Alexandre Pinto, que o acusa de fixar o percentual de propina cobrado às empreiteiras. Sem falar no dinheiro de seu partido que foi parar na campanha política de filhos de condenados pela Justiça, como Cabral, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Piccciani. De um lado, um paulista que veio para o Rio com 19 anos e ainda é pouco conhecido do eleitor. Do outro, um típico “menino do Rio”, ex-prefeito da cidade. Quem será o futuro governador do Estado do Rio de Janeiro? Saberemos ainda hoje.

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Wilson Witzel

Paulista de Jundiaí, Wilson José Witzel, de 50 anos, parece ter se dado como meta ser governador do Rio de Janeiro. Há quem diga que é uma “escada” para o sonho que lhe é mais caro: se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para participar da disputa do seu primeiro cargo eletivo, teve que se afastar da magistratura. Durante 17 anos, comandou varas de excecuções penais no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Processo Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), voltou a advogar. Seu principal cliente, como ele mesmo informou, passou a ser o partido que lhe acolheu: o PSC, presidido pelo pastor Everaldo Dias Pereira, que foi subchefe da Casa Civil do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, concorrente de Witzel no primeiro turno. O pastor, citado em delações da Lava Jato, foi candidato à Presidência da República em 2014 — este ano, lançou-se ao Senado na chapa de Witzel, mas não foi eleito.

Antes de se acertar com o PSC, Witzel procurou outras legendas como PDT, PV e PSL, sempre pleiteando disputar o cargo de governador do estado, este ano. Por ser desconhecido, não obteve sucesso. Ao longo da campanha, se apresentou como “ex-juiz” tendo como bandeiras principais o combate à corrupção e o crime organizado.

Quando foi juiz de Vara de Execuções Criminais, teve sua vida ameaçada justamente pelo crime organizado do Espírito Santo. Por conta disso, se transferiu para a Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro.

Filho de um torneiro mecânico e uma dona de casa, Witzel é o segundo dos quatro filhos do casal e único que saiu de São Paulo. Aos 19 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro após concluir o curso de formação de oficiais da Marinha, onde exerceu a função de oficial de pessoal do Grupo de Artilharia. Um hobby que manteve do seu tempo de criança é tocar trompete.

Aos 26 anos, nasceu sua primeira filha, Érica, fruto de um relacionamento que durou onze anos. Quando ela estava com 10 anos, o casal se separou e o contato entre pai e filha rareou. Aos 18 anos, Érica mudou de sexo. Atualmente, chama-se Erick, é produdor de queijos veganos e chef de restaurante de um hotel de luxo, no Rio de Janeiro. A relação entre eles é distante. Recentemente, o rapaz usou suas redes sociais para lamentar o resultado do primeiro turno das eleições. “Um dia triste para a história do nosso estado e do nosso país”, postou.

Um ano após a separação, Witzel se casou com Helena, sua atual esposa, com quem tem três filhos. A família mora no Grajaú. Diariamente, o candidato toma café da manhã na padaria próxima de casa. A rotina acabou por transformar o local em um QG informal da campanha.

Witzel, quando se tornou pai pela primeira vez, assumiu a assessoria da Presidência do Previ-Rio (Instituto de Previdência do Município do Rio de Janeiro). Deixou o cargo três anos depois, ao se tornar defensor público do Estado do Rio de Janeiro, atuando no Tribunal do Júri de Nilópolis, até 2001, quando ingressou na magistratura federal.

Lecionar faz parte do currículo do candidato. Ele foi professor da Fundação Escola da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e da pós-graduação da Fundação Getulio Vargas. Por cinco meses, até fevereiro de 2014, trabalhou como professor substituto na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde ministrou as disciplinas de Teoria Geral do Processo I (no 4° período) e Direito Processual Civil II (no 7° período). Durante a campanha eleitoral, ex-alunos da Uerj lançaram um manifesto contra o ex-professor. No documento, afirmam que Witzel “mostrou despreparo e descompromisso acadêmico” e qualificam sua vida acadêmica de “totalmente inexpressiva”.

O advogado Luiz Carlos Azenha é, segundo Witzel, um de seus ex-alunos. Azenha ajudou o traficante Nem da Rocinha a fugir, ao escondê-lo na mala do carro. Ao ser flagrado em uma blitz, tentou subornar policiais. Foi condenado a dois anos de prisão.

Entre 2015 e 2016, Witzel foi presidente da Associação dos Juízes Federais do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Ajuferjes). No site da instituição, consta que ele é suplente do Conselho Fiscal da atual gestão presidida por Fabrício Fernandes de Castro. Witzel também já foi diretor esportivo da Associação.

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Eduardo Paes

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Eduardo da Costa Paes está prestes a completar 49 anos. Desde os 23 “milita” na vida pública. Sua carreira começou em 1993, pelas mãos do então prefeito Cesar Maia, que o nomeou subprefeito da Barra e Jacarepaguá.

Filho de pai advogado e mãe professora, Paes foi criado no Jardim Botânico. Quando pré-adolescente, a Rede Globo usava os arredores do bairro, onde fica sua sede, para gravar novelas. Era comum a produção esbarrar com Paes e seus amigos nas praças. E lá ia o grupo fazer figuração. A “carreira televisiva” foi interrompida com a mudança para São Conrado, bairro em que ainda mora.

Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Paes praticamente não exerceu a profissão. Foi Daniela, filha de Cesar Maia, quem apresentou o amigo ao pai. Na época, Paes estagiava num escritório de advocacia. Quando se aproximaram, Maia já tinha rompido com Brizola, de quem foi secretário de Fazenda, e migrado do PDT para o PMDB, partido pelo qual se elegeu prefeito, em 1992. Paes participou dessa campanha. Foi seu batismo na vida política. Cedo, aprendeu a não se apegar a legendas partidárias. Atualmente no DEM, já foi dos quadros de PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB.

Na subprefeitura da Barra e Jacarepaguá, fazia parte do time de Paes um de seus adversários no primeiro turno destas eleições: Indio da Costa. É dessa época também a aproximação com Pedro Paulo, que, em 2016, foi o candidato de Paes para substituí-lo na Prefeitura do Rio. Foi pelo uso de um planejamento estratégico da prefeitura pela campanha do amigo que Paes foi condenado, no fim do ano passado, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, por abuso de poder político-econômico, o que o tornou inelegível. Em maio, uma liminar do TSE, que ainda será julgada, suspendeu a decisão do TRE-RJ, que lhe permitiu disputar a eleição.

O trabalho na subprefeitura credenciou Paes a disputar um cargo eletivo pela primeira vez, em 1996. Aos 27 anos, elegeu-se vereador. Na Câmara Municipal, criou o “Orçamento Cidadão”, que possibilitava à população participar das decisões a respeito da utilização dos recursos da prefeitura.

Sem terminar o mandato de vereador, foi eleito deputado federal em 1998. Em 2000, assumiu a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Dois anos depois, voltou para a Câmara dos Deputados. Nesse seu segundo mandato como deputado federal, foi autor da lei do Super Simples.

Foi em plena campanha para deputado federal, literalmente no meio da rua, que Paes conheceu a engenheira Cristine Assed. Quatro anos depois, os dois se casaram. O casal tem dois filhos: Bernardo, nascido em 2004, e Isabela, em 2005.

Em 2007, ano dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, foi nomeado Secretário Estadual de Turismo, Esporte e Lazer. No ano seguinte, foi eleito prefeito do Rio, sendo reeleito 2012. Sobre o cargo, declarou ser “o melhor emprego” que já teve na vida.

Workaholic assumido, Paes cobra da sua equipe o mesmo timming de trabalho. Sua agenda costuma ser abarrotada de compromissos. Sempre encontra tempo, porém, para uma paradinha em um boteco — o Cachambeer, no bairro do Cachambi, é quase um QG. Vascaíno e portelense, também não dispensa uma visita à quadra da escola, em Madureira. No meio de uma roda de samba, Paes vira “pinto no lixo”.

Como um típico carioca, não dispensa o uso de gírias e uma certa informalidade. Seu “uniforme” costuma ser uma calça jeans e camisa social para fora da calça. A paciência não é uma de suas virtudes. Em uma delação da Lava Jato, ele teria sido identificado como “nervosinho”.

A chegada à prefeitura marcou o rompimento com seu padrinho político. Ao assumir, fez críticas à administração de Maia. Ao se reeleger, derrotou nas urnas o filho de Cesar, Rodrigo, de quem é padrinho de uma das filhas.

Para concorrer ao governo do estado, Paes trocou o PMDB pelo DEM, atual partido da família Maia. Reza a lenda que ainda não fizeram as pazes, apesar de Cesar ter sido indicado para ser candidato ao Senado, na chapa de Paes. Como prefeito, ajudou a construir a candidatura do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016.

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elétrico | governo | RJ