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Candidato de última hora

Vice de Paes diz que teve 2h para responder a convite e só o aceitou porque ex-prefeito "não é Cabral"

José Peres / Jornal do Brasil -
"É uma liminar [que permite a Paes concorrer] em cima de uma coisa que eu acho que é secundaríssima (...) Se fosse uma liminar que tratasse de uma questão moral, não iria"
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O deputado estadual Comte Bittencourt (PPS) foi convidado na última hora por Eduardo Paes (DEM) para ser o vice em sua chapa. Carioca “apenas de certidão”, sempre viveu em Niterói. Professor, já foi vereador por três vezes, assumiu secretarias em governos de Jorge Roberto Silveira e se elegeu por duas vezes vice-prefeito. Na última, em 2016, não assumiu o cargo junto com o prefeito reeleito Rodrigo Neves (PDT). “Não me senti à vontade para renunciar ao mandato de deputado como fiz em 2004”, disse ele, por acreditar que seria mais útil na Assembleia Legislativa por conta da difícil situação do estado. A entrevista para o JB foi feita no seu gabinete na Alerj, voltado para a Praça 15, onde fica a estação das barcas, seu meio de transporte diário. Sua sugestão de passeio pelo estado foi a serrana Friburgo, cidade natal do seu pai, Miguel, primeiro diretor da Faculdade de Odontologia, atualmente administrada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). “Lá é muito especial para mim. É onde me encontro”, afirmou.

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"É uma liminar [que permite a Paes concorrer] em cima de uma coisa que eu acho que é secundaríssima (...) Se fosse uma liminar que tratasse de uma questão moral, não iria" (Foto: José Peres / Jornal do Brasil)

O seu nome para vice do Paes foi uma surpresa, lançado de última hora, não?

Foi uma surpresa até para mim. Recebi um convite do Eduardo no dia 4 de agosto, um sábado, quando ele foi na minha casa. Estava em plena campanha para reeleição. Ele tinha que anunciar o vice no domingo, e meu nome nunca tinha sido ventilado. Eu fiquei em dúvida e refleti.

Qual foi sua dúvida?

Até pelo meu projeto de vida. No gabinete, tenho professores, não tenho segurança. Por mais que esteja exercendo meu nono mandato eletivo, sou um cidadão como qualquer outro. Sou de um partido pequeno, com pouco tempo de televisão, fundo partidário pequeníssimo, então, o Eduardo foi buscar o quê? Um parlamentar que tem uma história, um campo de respeito em todas as áreas políticas.

Um parlamentar que pode abrir portas do outro lado da Baía de Guanabara onde ele não tem muito acesso?

Não há dúvida que teve esse simbolismo. Ele convidou alguém do antigo estado, mas teria outros, até com densidade eleitoral maior do que a minha. Não sou um deputado midiático. Defendo minhas convicções, sabendo enfrentar as adversidades com republicanismo e respeito. Acho que esses valores levaram o Eduardo a fazer o convite. Como disse, foi uma surpresa para mim e para a minha mulher Magda. Pedi duas horas para pensar.

Só duas horas?

Só tive esse tempo. Eu disse que tinha que falar com minha mulher. Isso muda hábitos, é um período de muitos enfrentamentos.

Se Magda dissesse não, Paes teria que arrumar outro vice?

Teria, e ele implorou para ela. Estou contente porque o Eduardo é um bom quadro. Não estou arrependido. Meus mandatos foram sempre de oposição. Talvez o Eduardo tenha me convidado um pouco em função dessa minha trajetória política. Colocar com ele na chapa alguém para sinalizar que ele não é o Cabral. E de fato, não é o Cabral. Se fosse, jamais teria aceito o convite.

Não temeu pela fragilidade de uma candidatura baseada em uma liminar?

Não, porque é uma liminar em cima de uma coisa que eu acho que é secundaríssima: uma publicação de metas de 20 anos da Prefeitura do Rio na campanha do Pedro Paulo [candidato de Paes para eleição de 2016, vencida por Marcelo Crivella]. Se fosse uma liminar que tratasse de uma questão moral, não iria.

No meio da campanha, Paes foi citado pelo seu ex-secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, em uma delação, acusado de receber propina em obras da prefeitura. Como avalia isso?

Não é uma delação nova. Tem contradições. O que estranho, com todo o respeito à Justiça, é um cidadão que está em prisão domiciliar há mais de um ano, que já fez outros cinco depoimentos, ser chamado para depor três dias antes da eleição. Aquela delação, no momento em que foi feita, perde um pouco a credibilidade. E uma delação confusa, porque o promotor pergunta muito, e ele acaba falando que “ouviu falar”.

O eleitor não presta atenção nos vices. Como o senhor encara a invisibilidade desse cargo?

Já fui vice duas vezes, conheço bem. Sou um sujeito disciplinado. Seria muito confortável para mim disputar outra eleição de deputado, com enorme chance de ser vitorioso novamente, mas entendi que precisava arregaçar as mangas pelo Rio de Janeiro. De toda forma, elegi o deputado que lancei no dia 6 de agosto, o vereador de Macaé Welberth Rezende. Consegui transferir para ele uma base que construí ao longo de anos, no estado.

Na última vez que se elegeu vice-prefeito, em 2016, o senhor não assumiu. Por quê?

Assumi a candidatura substituindo o Axel [Grael], que foi impugnado de forma injusta a 20 dias das eleições. Cumpri uma missão de campo político. Rodrigo [Neves] fez um bom projeto de recuperação fiscal de Niterói. Em 2016, vivíamos o pior cenário do Rio de Janeiro, cume da crise fiscal e de serviços no estado. Não me senti à vontade para renunciar ao mandato de deputado como tinha feito em 2004. Não foi oportunismo político, foi um convencimento meu pelo ambiente que o Rio vivia e continua vivendo.

Qual será o seu papel em um eventual governo Paes?

Não conversamos sobre isso, mas eu tenho as minhas áreas. Quando Eduardo me convidou, falei que tinha bandeiras de luta junto à sociedade do conhecimento. Ele me tranquilizou dizendo que vamos cumprir todas as bandeiras, principalmente, respeitar e executar os orçamentos e os 25% para a educação que o estado não vem respeitando. Mas, primeiro, precisamos ganhar uma eleição. Chegamos no segundo turno em uma onda complicadíssima que aconteceu no país.

Como avalia o resultado?

A eleição estadual foi nacionalizada. No Rio, o candidato mais votado para presidente teve 60% dos votos. No primeiro turno, eram 11 candidatos, e a sociedade acompanhou três ou quatro deles. Agora, acalma um pouco essa onda do primeiro turno e é um contra o outro. É proposta, projetos, histórico de vida, referência de atitudes, de comportamento. Vamos lutar muito. Confio muito na vitória do Eduardo.

O senhor acredita que seu papel também é ajudar Maricá a fazer as pazes com ele?

Já fez.

Paes ficou em quarto lugar em Maricá, no primeiro turno, atrás de Wilson Witzel (PSC), Marcia Tiburi (PT) e Romário (Podemos)...

Ele venceu em quatro municípios pequenos, foi uma onda de última hora que pegou a todos de surpresa.

A chapa reformulou a estratégia?

Agora é o enfrentamento. A sociedade vai poder confrontar as duas histórias de vida e pensamento de ambos.

Qual seu papel, neste momento da campanha?

Ajudar no que puder, dialogando com os setores da sociedade que eu me relaciono, com os municípios, o interior. Tenho feito muito isso.