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Candidato a vice governador pelo PSC atribui ofensas a Marielle a calor da campanha

José Peres / Jornal do Brasil -
"É o calor da campanha. Eles são chamados de fascistas o tempo todo. É a guerra dos coxinhas contra mortadelas. Na Câmara, me chamam de fascista, de safado. É uma arena política"
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Advogado, músico (tem três CDs lançados), evangelizador integrante da renovação carismática católica, o vereador Claudio Castro foi convidado pelo presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, para ser o vice candidato ao governo do Estado do Rio, na chapa encabeçada por Wilson Witzel. Apesar de estar no primeiro mandato, está longe de ser um estreante na política. Paulista (nasceu em Santos, mas veio para o Rio com um ano), Castro é cria dos deputados Marcio Pacheco e Hugo Leal. Há mais de 20 anos, trabalha como assessor parlamentar, ora com um, ora com outro. Foi assessor de Pacheco quando ele assumiu uma secretaria na primeira gestão de Eduardo Paes como prefeito do Rio. Na Câmara, se posicionou primeiro contra e, por último, a favor do pedido de impeachment do prefeito Marcelo Crivella, que anunciou apoio à chapa. A entrevista para o JB foi feita na sede do partido, no 21º andar de um prédio comercial no Centro do Rio. Sua sugestão de passeio é subir o Cristo Redentor. “Vou lá três vezes por ano. Sou amigo do padre Omar [reitor do local]. Meu clipe, gravei lá em cima”, contou.

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"É o calor da campanha. Eles são chamados de fascistas o tempo todo. É a guerra dos coxinhas contra mortadelas. Na Câmara, me chamam de fascista, de safado. É uma arena política" (Foto: José Peres / Jornal do Brasil)

Como se deu seu envolvimento com a política?

Com 16 para 17 anos, ingressei na Igreja Católica. Sou músico. Conheci o (deputado estadual reeleito) Marcio Pacheco nos grupos de oração e ficamos amigos. Em 2003, ele trabalhava como ouvidor-geral do Detran e me convidou para estagiar com ele. Quando foi concorrer a vereador, me convidou para ajudá-lo. Ele não tinha quase nada de suporte para a campanha. O (atual deputado federal reeleito e ex-secretário de Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho) Hugo Leal, então presidente do Detran, ajudou a gente com um pouquinho. O Marcio era muito conhecido na igreja. Se elegeu e eu fui ser seu chefe de gabinete. Em 2009, Marcio foi convidado pelo então prefeito Eduardo Paes para assumir a secretaria municipal da pessoa com deficiência, e eu fui ser seu assessor. Ele volta para a Câmara e se elege deputado estadual. Em 2012, saí candidato a vereador coligado com o PMDB, mas não ganhei. Em 2013, o Hugo, já deputado federal, me chamou para trabalhar no gabinete dele. No ano seguinte, voltei a trabalhar com o Marcio.

Qual foi sua função com esses parlamentares?

Sempre fui coordenador político. Faço estratégia, projetos de lei. Eles me preparam muito, fui crescendo. O Hugo saiu do PSC, foi pro Pros e depois para PSB. Eu e Marcio ficamos no PSC. Por conta da minha experiência, o presidente (da Câmara dos Vereadores) Jorge Felippe me convidou para fazer parte da mesa diretora, o que é raríssimo para um vereador de primeiro mandato. Assumi a segunda secretaria.

Como o senhor avalia a gestão do atual prefeito?

Sou independente do (Marcelo) Crivella. Votei favorável à revisão do IPTU, porque a cidade precisava muito daquilo. Os números apontavam para uma falência quase que total. Depois, votei contra a taxação dos inativos, porque achei injusto.

Como conheceu Wilson Witzel?

Eu participei da cerimônia de filiação dele ao partido, dia em que o conheci. Começamos a conversar, nos conhecer melhor. Um dia, eu e Marcio (Pacheco) o convidamos para uma agenda na APAE Rio e ele foi. Daquele dia em diante, há um encantamento. Vemos que pensamos muito parecido. Elogiou minha postura em relação ao impeachment (do prefeito). Sempre disse que o rito estava inverso: primeiro abre a CPI, depois vota. Como dessa vez o rito foi correto, fizeram a CPI antes, em seguida, fizeram o pedido (de impeachment), eu votei favorável à abertura do pedido.

Como se tornou vice na chapa de Witzel?

Fui convidado pelo presidente nacional do partido (Pastor Everaldo). Para mim, é um desafio. Eu dizia que não seria candidato a deputado, que eu não seria um político carreirista. Pensava em mais dois, três mandatos na Câmara (de Vereadores do Rio). Deus sempre guia as coisas. Eis-me aqui. Vamos ver o que vai acontecer.

Qual será seu papel como vice, em caso de eleição da chapa?

Wilson espera de mim essa coordenação política, a interface com o legislativo. Hoje (no partido), estou atendendo as pessoas para ele poder fazer a campanha em paz. A gente comunga da mesma linha, que essa eleição está sendo pedagógica.

Em que sentido?

As pessoas não querem a velha política. Querem pessoas diferentes. A gente não faz aliança com ninguém.

Mas vocês tiveram muitos votos por terem se atrelado à família Bolsonaro?

Nós não dizemos que não queremos apoio. Dizemos que não queremos alianças. Flávio Bolsonaro não pediu nada para Wilson. Ele ajudou porque acreditava. Flávio não teve ajuda de nossa campanha.

O senhor é de uma casa onde aconteceu um fato político grave, que foi o assassinato de Marielle Franco. E o nome dela acabou envolvido em um ato de campanha do Wilson. O então candidato que se elegeu como o mais votado da Alerj rasgou uma placa em homenagem à vereadora e fez um discurso de incitação ao ódio político. A fala desse deputado é cristã?

Eu não estava lá. Li sobre isso. A placa era irregular. Sou radicalmente contra violência ou intolerância. Não apoiaria um ato de intolerância. Quem está vivendo campanha tem um calor que é uma anormalidade. Às vezes, se faz atos impensados. Não sei se quebrar a placa foi tão intencional para ofender a Marielle. Conheço Rodrigo Amorim. Ele é uma pessoa muito do bem

O senhor teve conhecimento do discurso dele? Sobre “sentar um dedo nesses vagabundos na Alerj”?

Eu convivo com seis vereadores do PSOL todos os dias. A gente tem uma relação absolutamente cordial. É óbvio que não sou nem um pouco a favor de se “sentar o dedo” em ninguém. Volto a repetir: acho que foi um ato no calor de campanha. Não creio que Rodrigo Amorim pense em “sentar o dedo” em ninguém. Não reflete o que verdadeiramente pensa. Acho que o “sentar o dedo” é mais na arena política.

Ele se refere aos militantes de partidos de esquerda como vagabundos...

É o calor da campanha. Eles são chamados de fascistas o tempo todo. É a guerra dos coxinhas contra mortadelas. Na Câmara, me chamam de fascista, de fundamentalista, safado. É uma arena política. É complicado pegar um fato isolado sem o contexto. Ser chamado de fascista o tempo todo também não é uma coisa agradável. Vagabundo é linguajar mais usual. É um conflito político. Não penso que o Rodrigo Amorim fale isso no campo de ofensa pessoal. É cruzamento de ofensas.

O senhor continua atuante na igreja?

Continuo, continuo cantando e também prego. Sou leigo.

Esse trabalho ajuda a conseguir votos?

Ajuda no sentido que eu mostro que não abandonei minhas raízes. Não sou um fake. As pessoas estão vendo que isso é a minha vida. Nos meus shows, jamais falei que era vereador. Eu não peço um voto. Fico uma hora falando ou cantando e não cito que sou vereador. São coisas diferentes.