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Witzel acena para o fim da intervenção

Governador eleito do Rio ignora aviso de generais e mantém decisão de extinguir Secretaria de Segurança

Wilson Dias/AE -
Witzel participou, ontem, do Forum dos Governadores, em Brasília, e reafirmou decisão
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Os generais da intervenção federal avisaram, mas o governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), fez ouvido mouco e reiterou, ontem, sua decisão de extinguir a Secretaria de Segurança Pública do Rio (Seseg). Segundo ele, o órgão não funcionou em lugar algum, porque segurança pública passa por questões relativas a direito penal, que não prevê essa estrutura. Witzel disse que vai criar, por decreto, um conselho, com participação de representantes do Judiciário, do Ministério Público e das polícias. De acordo com o governador eleito, acabar com a secretaria é necessário para atingir o tráfico de drogas e de armas no Rio de Janeiro.

Witzel participou do Fórum de Governadores, em Brasília, no qual estavam também o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o ex-juiz Sergio Moro, confirmado para o Ministério da Justiça. “Os interventores trabalham com um modelo que não vem dando certo em lugar nenhum. Eu tenho uma visão da segurança pública um pouco diferente dos generais: não se faz segurança pública sem processo penal, sem infiltração e sem levantar sigilos fiscal e telefônico”, disse.

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Witzel participou, ontem, do Forum dos Governadores, em Brasília, e reafirmou decisão (Foto: Wilson Dias/AE)

A afirmação ocorreu depois de o interventor federal para a área de Segurança Pública, general Braga Netto, e o secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, criticarem publicamente a extinção do órgão estadual, durante a realização, na terça-feira, do fórum do Observatório Militar da Praia Vermelha, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca. Os dois disseram que o plano de transição para a área de segurança conta com a continuidade do organograma da área. “Todo o planejamento foi feito em cima disso, e todo o legado foi pensado nessa estrutura. Essa é a grande preocupação que nós temos com a transição: como vai se adaptar o legado que nós vamos deixar com a nova estrutura que está sendo difundida na imprensa”, disse Braga Netto.

O secretário estadual de Segurança, Richard Nunes, alertou que a separação das polícias em duas secretarias pode gerar dificuldade administrativa e de integração das inteligências da Polícia Civil e da Polícia Militar: “[O fim da Secretaria de Segurança] impacta bastante e nos preocupa muito. Em nosso entendimento, se ela fosse desnecessária, nós teríamos feito isso [extinguido]. Nos preocupa bastante como vai ser a transição sem uma secretaria que possa integrar as polícias e seguir esse processo”.

No dia 1º, o JORNAL DO BRASIL publicou a informação de que a decisão de Witzel ameaça a continuidade das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e a permanência das forças de segurança do Rio, que podem sair da noite para o dia, neste caso. Braga Netto e Richard Nunes ainda não se manifestaram oficialmente sobre a possibilidade, mas já soltaram o alerta nos bastidores de que, caso a medida anunciada por Witzel se confirme, não haverá mais interlocução possível com as instâncias federais e com o Exército, o que provocaria a retirada imediata das forças. Braga Netto e Nunes já teriam deixado claro que não fariam mais nenhuma operação de GLO, se não houver um órgão formalmente constituído que coordene as duas polícias no estado, porque não pretendem “ficar falando” com a Polícia Civil e com a Polícia Militar.

Ontem, um coronel do Exército ligado ao interventor Braga Netto disse que, “caso o presidente da República aceite o pedido de ajuda do governador através do decreto de GLO, os militares cumprirão com o seu dever”: “A dúvida é como será a coordenação desse trabalho. Hoje, há um comando conjunto, com a Secretaria de segurança como interlocutora. Mas como isso será feito após a extinção da Secretaria de Segurança? Será muito mais difícil desenvolver um trabalho, porque serão dois interlocutores (Secretaria de Polícia Militar e Secretaria de Polícia Civil), que tem interesses diferentes. Quem coordenará as ações de inteligência? O governador precisa explicar isso”

Fuzis

Witzel voltou a dizer que bandido portando fuzil é “um risco iminente que deve ser abatido”. “O protocolo é neutralizar”, afirmou em entrevista coletiva após a reunião do Fórum dos Governadores. O governador eleito disse que apoiará uma eventual proposta do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para incluir entre as excludentes de ilicitudes os casos em que o policial matar uma pessoa que porte fuzil: “Tenho dito que qualquer questão que se coloque para essa interpretação vai ter várias opiniões. Por outro lado precisa pensar que quem está portando fuzil não está preocupado com vida humana alheia. Está determinado a eliminar qualquer vida hostil a ele. [Os criminosos] Já estão avisados de que não se pode andar nas ruas de fuzil a tiracolo. Ninguém aqui está sendo enganado. É um risco iminente que deve ser abatido”.

Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo