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Prefeitura corta verba dos GRES

Em dois anos de gestão de Marcelo Crivella, escolas de samba viram valor da subvenção ao carnaval cair 75%

Tânia Rêgo/Agência Brasil -
Beija-Flor no Desfile das Campeãs deste ano
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Sem fazer alarde, a Prefeitura do Rio cortou pela metade, pelo segundo ano consecutivo, as verbas destinadas às escolas de samba para o carnaval. Em 2016, elas contavam com R$ 2 milhões. Em 2017, ficaram com R$ 1 milhão. Este ano, segundo despacho da Riotur publicado na quinta-feira no Diário Oficial, ficarão com R$ 500 mil. Com isso, em dois anos de governo Crivella, viram a subvenção cair 75%, restando um quarto da dotação para fazer a festa mais popular da cidade.

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Beija-Flor no Desfile das Campeãs deste ano (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O prefeito Marcelo Crivella não se manifestou sobre o caso, mas a Riotur emitiu a seguinte nota: “As conversas realizadas entre a prefeitura e os representantes das escolas do grupo especial previam um aporte de R$ 1 milhão para cada agremiação. Os recursos que viabilizariam a subvenção seriam divididos entre a municipalidade (R$ 500 mil) e o patrocínio da Uber captado pela Riotur (R$ 500 mil). Ao longo dos últimos sete meses, ocorreram reuniões com a Uber, que firmou um contrato com a Riotur que, como noticiado na semana passada, foi rescindido por ordem do setor de compliance da matriz americana em virtude da operação Furna da Onça, que acarretou a prisão de Chiquinho da Mangueira, deputado estadual e presidente de uma das agremiações do grupo especial. Cabe ressaltar que a prefeitura realiza a cessão do Sambódromo, bem como de serviços de iluminação, ordenamento público e limpeza, entre outros, para a realização dos desfiles, com todos os custos cobertos pelo município. A Riotur ainda segue dialogando com diversas empresas, tendo realizado ontem (quinta-feira) uma reunião com a empresa 99, para complementar o aporte para as escolas do grupo especial.”

A notícia, claro, não foi bem recebida pelo mundo do samba. No esquenta, Marquinhos de Oswaldo Cruz versejou diretamente sobrea questão financeira. Cita um estudo da Fundação Getulio Vargas, que estimou em R$ 77 milhões a arrecadação do imposto municipal que o Carnaval proporcionou para a cidade no ano passado — 6,5% a mais do que em 2016, diga-se de passagem. O estudo, explica ele, inclui grupos da Liesa e blocos de rua. “Não precisa tirar verba da saúde ou da educação; é só reservar para as escolas e blocos parte desse dinheiro do ISS [Imposto sobre Serviços]. Daria para fazer um baita Carnaval”, diz Marquinhos.

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Crivella não se manifestou, mas Riotur botou parte da culpa na corrupção (Foto: Luciano Belford/AE)

O historiador e escritor Luiz Antonio Simas aprofunda a polêmica e diz que “é claro que existe, por parte da atual administração municipal, a intenção de não dar ênfase às manifestações de cultura popular, sobretudo as ligadas à cultura afrobrasileira”. Mas esse, afirma ele, não é o único quesito a ser destacado nesse enredo. Para ele, o carnaval das escolas de samba começou a dar um enorme destaque ao visual em detrimento dos fundamentos das escolas de samba. O samba-enredo, a bateria, a dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira, a ala das baianas, tudo isso passou a ficar em segundo plano, o que acabou encarecendo o desfile. “Gastos excessivos, por causa disso, viraram uma realidade, para bancar ideias mirabolantes. Nesse sentido, a diferença entre o Grupo Especial e os outros ficou brutal”, argumenta.

Simas ressalta também o fato de o capital privado não querer se associar à marca das escolas de samba, devido à histórica relação entre a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e a contravenção. O mais triste, descreve o historiador, é que as escolas de samba do Grupo Especial perderam a relação afetiva com a população do Rio de Janeiro. “O sambódromo não é um espaço popular e, nele, há camarotes vips e celebridades de ocasião”. Simas dá como exemplo algo que vai acontecer “amanhã” (hoje). “Neste sábado, com o cancelamento do ensaio na quadra do Salgueiro, não haverá qualquer atividade nas escolas do Grupo A. Seria inimaginável isso acontecer no passado, com a data do Carnaval cada vez mais próxima”.

Luciano Belford/AE - Crivella não se manifestou, mas Riotur botou parte da culpa na corrupção