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Primeira parte dos 220 médicos cubanos que atuavam no Rio embarcam no Galeão com seus presentes na bagagem

Marcos Tristão -
Cubanos foram recebidos com bandeiras
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O primeiro grupo dos 220 médicos cubanos que estavam no estado do Rio, através do Programa Mais Médicos, deixaram o país ontem. No Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, receberam o carinho de médicos brasileiros, pacientes, além de lembranças, abraços e bandeirinhas da ilha caribenha e do Brasil.

Há um ano e quatro meses vivendo no bairro de Vinhateiro, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, o clínico geral Julio Cesar Domenico, de 44 anos, foi presenteado com uma camisa do Madureira. O time da primeira divisão carioca foi o primeiro clube de futebol a pisar no país após a Revolução Cubana, em1959. Na ilha de Fidel, foram cinco jogos e cinco vitórias. O regalo dado ao médico veio do aposentado José Simões, de 74 anos, integrante da Associação José Martí do Rio de Janeiro.

Macaque in the trees
Cubanos foram recebidos com bandeiras (Foto: Marcos Tristão)

“A experiência de conhecer outro povo com tantas carências e contribuir um pouco para amenizá-las valeu muito a pena”, agradeceu o clínico. “Mas tinha certeza de que voltaríamos antes do prazo, quando ouvi um pronunciamento do (hoje) presidente eleito. Fomos desrespeitados”, lamentou

Seu amigo, Yunier Boza Ferrez, de 34 anos, que atuava no bairro de Rio Preto, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, destacou seu trabalho e o de outros colegas para tratar, na periferia fluminense, doenças já eliminadas em Cuba.

“Como muitas moradias eram insalubres, eram muitos casos de diarreias, verminoses e berne (infecção da pele com a larva da mosca varejeira)”, diz ele que, na bagagem, levou uma boneca para a filha que deixou em Santiago de Cuba. “As palavras de Bolsonaro nos agrediram, porque durante todo o tempo duvidou que fôssemos médicos competentes. Meus pacientes ficaram muito chateados com a nossa saída. Mas a escolha foi de vocês, brasileiros, que elegeram seu presidente”.

Em sua segunda missão humanitária, a médica Rosalia Fernández Lourenzo, de 29 anos, se disse “muito triste” pelos amigos que deixou no Brasil, mas avaliou a decisão de Cuba, de sair do programa, como acertada.

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Yunier (de cinza) se preparava para embarcar após mais de um ano de trabalho, enquanto Julio Cesar festejava o presente recebido: uma camisa do Madureira (Foto: Marcos Tristão)

Depois de formada em Medicina, foi trabalhar na Venezuela, onde ficou dois anos e meio. Há um ano e dois meses desembarcou em Dores de Macabu –distrito distante 65 quilômetros da sede municipal. Responsável por 10.672 pacientes, era a única médica do posto, que chegou a ficar dois meses sem médico, quando, no início de 2016, sua antecessora, também cubana, foi embora.

“As pessoas são maravilhosas. Cuidamos de tuberculose, leishmaniose, hanseníase. Fizemos nossa parte”, pontuou ela, enquanto despachava sua extensa bagagem no aeroporto, incluindo duas TVs.

“Quando estive na Venezuela, consegui comprar geladeira para minha família, uma moto para meu pai, reformei toda a casa e comprei muitos móveis. Desta vez, pretendia comprar uma casa e um carro pra mim. Não vai dar, mas já valeu muito a pena”, diz.

Responsável por distribuir flores aos “hermanos”, Lícia Hauer, 54 anos, vice-presidente da Associação Cultural José Martí elogiou o grupo: “Só podemos agradecê-los e nos desculparmos”

Para ocupar as 220 vagas deixadas pelos cubanos no estado, o Ministério da Saúde informou que a expectativa é de que os postos sejam preenchidos até 14 de dezembro – data-limite para a apresentação dos inscritos.

Marcos Tristão - Yunier (de cinza) se preparava para embarcar após mais de um ano de trabalho, enquanto Julio Cesar festejava o presente recebido: uma camisa do Madureira