ASSINE
search button

Prefeitura remove projeto ambiental na Rocinha

Justificativa foi de que iniciativa do estado usava estrutura irregular

Compartilhar

Com o apoio de policiais militares, a Prefeitura do Rio removeu, ontem, um projeto de educação ambiental do governo do estado na Rocinha, na Zona Sul da cidade. O projeto, chamado De Olho no Lixo, conta com o apoio da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj), da organização não governamental (ONG) Viva Rio e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da Secretaria de Estado do Ambiente (SEA).

Segundo a prefeitura, a estrutura usada pelo projeto era irregular. Para a remoção, foi mobilizada uma força-tarefa que conta com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) e a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação, com o apoio da Subsecretaria de Operações, da Guarda Municipal e da Coordenadoria de Fiscalização de Estacionamentos e Reboques, ligadas à Seop, além de garis da Comlurb.

Na página do projeto no Facebook, os administradores manifestaram sua revolta com a medida, lembrando as atividades e os programas de educação ambiental ali desenvolvidos, como o Funk Verde, voltado para oficinas de percussão e elaboração de instrumentos musicais com materiais de descarte, e o Eco Moda, dedicado a criação de roupas utilizando material reaproveitado, além de cursos de alfabetização, com aulas português e matemática e inglês. O tom das mensagens foi de desabafo: “Lamentável a falta de sensibilidade com que foi tratado o projeto pela prefeitura, que covardemente levou um trabalho de mais de dois anos ao chão, junto com toda estrutura e empregos que são gerados. A prefeitura não escolheu o diálogo, e o estado sequer foi notificado. Os maiores prejudicados são os moradores da Rocinha e São Conrado, além do ambiente”.

Em nota, a Secretaria Estadual do Ambiente, responsável pelo projeto de reciclagem, classificou a ação de arbitrária e desrespeitosa e afirmou que não recebeu qualquer solicitação ou notificação para que o espaço fosse cedido à prefeitura. A Secretaria do Ambiente diz que tem a cessão do espaço, que chegou a ser reservado para obras de um plano inclinado na Rocinha, mas foi cedido pela Secretaria Estadual de Obras por não haver previsão para a implantação do modal de transporte. A secretaria e o Inea afirmam que a remoção foi feita de “forma violenta e dispendiosa (...), levando surpresa e medo aos moradores do local” e informam que tomarão todas as medidas cabíveis para que o projeto permaneça na comunidade”.

No local funcionava a cooperativa Rocinha Recicla, criada no ano passado a partir do projeto estadual, que existe desde o primeiro semestre de 2016. O presidente da cooperativa, José Antonio Trajano, disse que foi surpreendido pela ação. Segundo Trajano, a cooperativa tem alvará da prefeitura para funcionar e emprega 57 pessoas da comunidade: “Ficamos sem poder fazer nada. Mostrei o documento e falaram que não queriam ver. Temos 57 cooperados e geramos renda para essas famílias”.

Tratores removeram telhas que cercavam a área e derrubaram a estrutura que abrigava o material guardado na cooperativa. Os pertences da entidade foram levados para outro endereço, na Estrada da Gávea, que foi reservado para realocar a cooperativa. No entanto, Trajano não considerou o lugar adequado. “É uma estrada supermovimentada por onde sobe todo o trânsito da Rocinha. Como a gente vai ter fluxo de caminhão nesse local? Vai tumultuar”, afirmou o presidente da cooperativa.

Além do trabalho de manejo dos resíduos sólidos, o local abriga aulas de alfabetização e de música. No curso Funk Verde, há oficinas de percepção sonora e confecção de instrumentos musicais a partir da reutilização de resíduos sólidos. Há ainda o curso Ecomoda, que capacita jovens da comunidade a confeccionar roupas e acessórios com material reciclado. (Agência Brasil)