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Cenários do Observatório da Intervenção destoam dos dados apresentados pelo ISP

Fernando Frazão/Agência Brasil -
Blindado usado pela operação militar realizada durante o início do ano na Favela Kelsons, na Zona Norte, parece rotina para moradores,
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Há oito meses no estado do Rio de Janeiro, a intervenção militar foi, novamente, perscrutada pelo Observatório da Intervenção, uma realização do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC/Ucam), cuja meta é a de acompanhar e informar os impactos e as violações de direitos em função da própria intervenção. Os dados de fevereiro a setembro foram divulgados ontem. No mesmo dia, o Instituto de Segurança Pública (ISP), vinculado à Secretaria estadual de Segurança Pública, anunciou os números relativos ao mês de setembro. Os cenários apresentados pelo Observatório e pelo ISP destoam. O Observatório traz dados impressionantes. No período de fevereiro a setembro, houve 172 policiais e militares mortos em ações em favelas e periferias. Foram, até agora, 535 operações, com 193 mil agentes. O número de apreensão de armas foi de 617, um pouco mais de um por operação, acentuando que não há inteligência atuando para desarmar o crime.

Já no ISP o ressaltado é que, “em setembro de 2018, houve queda em praticamente todos os principais indicadores de criminalidade do estado na comparação com o mesmo período do ano passado”. Uma leitura rápida pode até levantar como hipótese que a intervenção, enfim, traz boas notícias ao Rio. A coordenadora do Observatório, Silvia Ramos, porém, avisa: “A comparação do ISP dos dados de setembro deste mês em relação aos de setembro do ano passado é relevante, mas fica longe de dar a ideia do todo”.

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Blindado usado pela operação militar realizada durante o início do ano na Favela Kelsons, na Zona Norte, parece rotina para moradores, (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O ISP, por exemplo, destaca que, em setembro de 2018, o “indicador letalidade violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial) registrou o menor índice do ano: 504 vítimas, uma redução de 13% em relação a setembro de 2017”.

O Observatório, por sua vez, expõe os dados deste ano de letalidade violenta em relação aos do ano passado, levando-se, novamente, em conta, os meses de fevereiro e setembro. em 2017, houve 4.388 mortes, enquanto que este ano (obviamente sem contar os meses de outubro, novembro e dezembro) já se acumulam 4.543. O pesquisador Pablo Nunes, do Observatório, observa que os números de letalidade violenta têm de ser considerados à luz dos investimentos na intervenção, até agora R$ 1,2 bilhão. “O número de homens empregados e os recursos financeiros não podem ficar fora da análise”, diz Pablo, ressaltando que a maneira de gastar também precisa ser considerada. “Por enquanto, foram investidos R$ 16 milhões, sendo que R$ 15,7 milhões foram alocados no Exército; e inacreditáveis R$ 4 mil, nas policiais estaduais”.

Pablo Nunes regionaliza algumas informações. Na Baixada Fluminense, ele lamenta o que no ISP se classifica como “mortes decorrentes da ação policial”. Se no no passado ocorreram 229 mortes no contexto desta categorização, este ano já houve um salto para 376, um aumento de 64,2%. No estado todo, houve 1.024 mortes “decorrentes da ação policial, enquanto que, no ano passado, foram 721.”

O ISP comemora a diminuição de roubo de cargas. De fato, mesmo levando-se em conta as informações do Observáro, vê-se que, de fevereiro a setembro, houve uma queda de 37.206 para 34.684. Segundo o ISP, este mês foram registradas 577 ocorrências de roubo de carga. O que denota uma tendência de queda é que, no mesmo mês em 2017, houve 15% a mais deste tipo de crime.

O ISP salienta ainda que o número deste mês, nesse item, foi o menor registrado desde setembro de 2015.

Silvia Ramos diz que seria preciso mais subsídios para aferir se, em matéria de roubo de cargas, as ações da intervenção federal têm sido, de fato, efetivas. “Estão fazendo ações constantes, como na região em torno da Pavuna. Mas é fundamental desarticular as quadrilhas de receptação de cargas, pois há regiões como a do Tanguá que esse tipo de crime vem aumentando exponencialmente.

Sobre a pesquisa do Observatório divulgada ontem, nela não foram registrados os números da operação com homens das Forças Armadas e da Polícia Federal na Favela do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. A ação contou com 1070 militares e 30 policiais federais, blindados e aeronaves.