Pajé recorre a arco e flecha para defender a tribo contra invasões de ladrões e mendigos Além de não saber se o poder público irá realizar o sonho de transformar o velho casarão em universidade e centro de arte de sua cultura, os índios que habitam o museu abandonado ainda convivem diariamente com ameaças de invasão de ladrões e mendigos.
– Não desgrudo do meu arco e flecha e da minha borduna (um porrete de cedro, comum nas culturas indígenas) – afirma a pajé Niara do Sol, da tribo Fulni-ô, de Pernambuco.
– Ano passado, botei três para correr daqui e nunca mais a p a re c e ra m .
Niara, 59 anos, mora em um abafado casebre com paredes de barro, bambu e telhas de amianto.
Ela é a curandeira dos índios, que vivem em precárias condições, espalhados por oito ocas montadas no terreno do antigo museu.
Com base em sua sabedoria, a pajé está certa de que os nativos terão êxito.
– Só entrei nesse movimento porque sabia que não seria uma causa perdida – diz Niara do Sol.
Com suas ervas, óleos e essências, ela costuma expulsar qualquer mal que acometa os irmãos de pele vermelha.
Inclusive os espirituais..
– Também pratico o Heike, técnica japonesa que cura dores e outros males através danergia quântica, sem contato físico, só através do poder da mente – revela a pajé, exibindo o diploma do Instituto de Pesquisas e Difusão do Heike, obtido em 2003.
O antigo prédio está em péssimas condições.
Com rostos pintados, os índios das tribos Guajajaras, Pataxó, Pankararu, Apurinã, Fulni-ô, entre outras etnias de vários estados do Brasil, se revezam na garra e no improviso para se manter na área.
O fornecimento de água e luz é precário.
– Estou no terceiro ano do ensino médio e trabalho numa fábrica de guaraná natural no Méier.
Aqui todos trabalham – lembra a guajajara Iraneusa Bernardo, 23 anos.
O dinheiro arrecadado com a venda de artesanato feito por eles também ajuda a engordar a dispensa.
– Fazemos bijouterias, zarabatanas e apitos, que vendemos em Copacabana – conta Aruandê Pataxó, 20 anos..