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Divergência entre estados e Bolsonaro confunde população, diz especialista

Adriano Machado -
Governador de São Paulo, João Doria, acompanhado do governador do Rio, Wilson Witzel, e do presidente Jair Bolsonaro
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Doria e Witzel, além de outros governadores, têm feito oposição aberta ao presidente na questão da crise do coronavírus (Foto: Adriano Machado)

O pronunciamento do presidente brasileiro Jair Bolsonaro na terça-feira (24) aumentou a crise com os governadores. A agência de notícias Sputnik Brasil ouviu um cientista político para comentar a crescente tensão entre Brasília e os estados e como isso pode criar problemas para a população.

Durante o pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, Bolsonaro minimizou a pandemia do novo coronavírus. O presidente voltou à referir-se à doença Covid-19 como uma "gripezinha" e também como "resfriadinho". No Brasil, hoje, há 2.915 casos da doença, com 77 mortes.

Bolsonaro também discursou contra o fechamento de escolas, do comércio e contra a quarentena, medidas sendo aplicadas mundo afora para combater a disseminação do vírus.

No mesmo dia, diversos governadores usaram as redes sociais para criticar o posicionamento, entre eles Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e João Dória, de São Paulo. O governador Ronaldo Caiado, de Goiás, um apoiador de Bolsonaro desde a campanha presidencial, também foi contra o discurso e sinalizou rompimento político com o presidente.

Como consequência dessa situação, na quarta-feira (25), os governadores se reuniram para pensar uma estratégia sem Bolsonaro.

Para Guilherme Carvalhido, cientista político e professor da Universidade Veiga de Almeida, essa tensão cria um clima de desorganização no país.

"Quando você tem o presidente em um pensamento, em uma estrutura de pensamento, e, por outro, os governadores, ou uma grande maioria deles em uma linha de pensamento, como parece, você tem uma dissonância política criando na organização do poder uma forte desorganização", explica o professor.

O cientista político acredita que um alinhamento é necessário para manter a estrutura organizativa e avalia que esse acordo deverá acontecer em breve.

"Acho que nos próximos dias, até mesmo hoje, a gente tenha ainda uma negociação para que haja, melhor dizendo, um alinhamento, de posicionamentos", diz.

'Quem a gente deve seguir?'

Carvalhido aponta que essa situação é "inusitada do ponto de vista político", pois a pandemia "é um fenômeno novo para os estudos das ciências políticas". Para ele, no entanto, a divergência entre o Executivo federal e os governadores afeta o próprio entendimento da população sobre o poder.

"Se não há esse alinhamento, haverá automaticamente por parte da população um não entendimento de onde vem as ordens. 'Quem a gente deve seguir?'", afirma.

Segundo o professor, hoje vivemos exatamente essa situação, uma disputa sobre a quem a população deve obedecer, o que ele classifica como "inédito".

Para o especialista, porém, os governadores estão corretos em tomar uma posição própria, que no caso é a escolha de seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Carvalhido também acredita que "a posição pública" de Bolsonaro deva ser a favor das medidas de isolamento social para evitar o "vácuo de poder".

"Eu acredito que a linha do que vai ocorrer agora é justamente um alinhamento, porque se não há vai criar-se um vácuo na estrutura de poder", avalia.

Por fim, o especialista ainda aponta que a questão eleitoral faz parte dessa disputa, porém há principalmente o interesse público em jogo para a contenção da pandemia. Segundo ele, esse momento será fundamental, principalmente para o ano eleitoral de 2022. (Sputnik Brasil)