ARTIGOS

As mortes de agosto

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Por MAURO MAGALHÃES

Publicado em 18/08/2022 às 10:05

Alterado em 18/08/2022 às 10:05

Dois presidentes queridos, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, morreram em agosto.
Eu tinha uns 18 ou 19 anos, trabalhava com meu irmão, Fernando Magalhães, na empresa dele, de automóveis, no Centro do Rio de Janeiro, quando soube, pela manhã, bem cedo, em 24 de agosto de 1954, que o presidente Getúlio tinha se suicidado. A notícia foi transmitida pelo locutor Eron Domingues. De quem, mais tarde, tornei-me amigo.

Embora minha família fosse da UDN, confesso que eu chorei, quando soube. A comoção era geral. Todos choravam, ali, no centro da cidade.

Eu chorei pelo Brasil, que perdia Getúlio Vargas e porque, quando eu tinha 7 anos e morava com meus pais em Petrópolis (meu pai trabalhava no Quintandinha), eu cheguei a conhecer o presidente.

Era um domingo. Eu passei com meu pai pelo Palácio Rio Negro e ali na porta, junto com Gregorio Fortunato e alguns admiradores, estava Vargas. Eu ganhei uma foto do presidente, depois de insistir com meu pai que queria ver o Getúlio de perto. O presidente era muito carinhoso com as crianças.

Também chorei quando soube da morte de Juscelino Kubitschek. De quem fiquei amigo na época da Frente Ampla. Eu, um lacerdista, tive a honra de me tornar amigo de JK e de estar com ele inúmeras vezes, em seu apartamento da Avenida Atlântica.

Juscelino morreu no dia 22 de agosto de 1976, em acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra.
O opala preto, conduzido pelo motorista Geraldo Ribeiro, se desgorvenou, supostamente, ao se chocar com um ônibus, cruzou a pista, bateu de frente com uma carreta Scania.

Juscelino e o motorista Geraldo morreram na hora.

Alguns amigos de Juscelino suspeitaram do acidente, inclusive eu. Muito estranho que Juscelino, João Goulart e, depois, Carlos Lacerda, tivessem morrido em épocas tão próximas .

João Goulart morreu em dezembro de 1977 e Carlos Lacerda morreu em 21 de maio de 1977.
Em 2013, a Comissão da Verdade concluiu que JK pode ter sido assassinado, naquele acidente.
Juscelino, João Goulart e Carlos Lacerda lideraram a Frente Ampla, movimento do qual participei, pela redemocratização.

Antes do acidente com JK, em 21 de agosto de 1976, uma notícia fake circulou, em 7 de agosto de 1976. De que o presidente havia morrido no carro a caminho de sua fazenda em Luziânia (GO), vindo de Brasília, no Distrito Federal.

Aos amigos, preocupados com a notícia fake, Juscelino chegou a comentar que realmente tinha pensado em fazer esse percurso. Mas, desistiu na última hora.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade, após investigar a hipótese de atentado, levantada em 2013, concluiu que a morte de Juscelino foi mesmo um acidente. Mas, até hoje, alguns amigos de JK, que ainda vivem, questionam tudo isso.

Mais do que a lembrança da renúncia (em 25 de agosto de 1961) de Jânio Quadros, um presidente que venceu por muitos votos, mas que não tinha a simpatia da UDN lacerdista, eu sinto muita tristeza, todas as vezes em que lembro do suicídio de Getúlio Vargas e da morte de Juscelino Kubitschek.

O velório de Getúlio Vargas, eu acompanhei pelo rádio e pelos jornais.

Mas, ao velório de Juscelino Kubitschek, no Rio de Janeiro, eu fui, com o ex-senador Nelson Carneiro. E, estive no emocionante funeral, em Brasília de meu amigo, Juscelino.

*Ex-deputado e empresário.

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