Depois de muita expectativa em relação à possível candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República pelo PSB, o ex-ministro anunciou sua desistência frustrando a legenda, que não tinha outra alternativa e agora terá que fazer a sua escolha para a sucessão de outubro. O próprio Barbosa admitiu: “’Meu coração já vinha me dizendo: não mexe com isso, não”. Esse sentimento foi revelado ao presidente do PSB, Carlos Siqueira, quando Joaquim Barbosa telefonou ontem para dizer que não seria candidato.
O ex-ministro sempre se disse dividido em entrar na vida política e uma de suas maiores justificativas é que ele é arrimo de família e os próprios parentes não simpatizavam com essa ideia. O temperamento dele e os ataques sofridos na internet também são apontados como influenciadores para a decisão. Apesar de Siqueira dizer que tudo ocorreu dentro do combinado, pois quando o ex-ministro entrou para o partido foi informado de que a legenda não estaria assegurada, o não de Barbosa foi lamentado por integrantes da cúpula do PSB. “Nos não tínhamos plano B, o nosso plano era JB. Achávamos que o Joaquim tinha condição de fazer esse sentimento diferenciado em uma eleição onde as coisas estão tensionadas. Ele era um nome que tinha condições de unificar e pacificar a politica brasileira”, afirmou o líder na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG). “A gente perdeu uma grande oportunidade”, acrescentou.
Sem ‘outsider’ Com o ex-ministro fora da disputa, não há mais um outsider nas eleições deste ano, como muitos desejavam em função da falta de renovação e da onda de criminalização da política que vem tomando conta do país. O jogo se resume a antigos políticos conhecidos. “Todas as candidaturas são do meio da política, não tem ninguém de fora que pudesse representar algo novo de aspiração da sociedade”, afirma Delgado. Por ser novo na política, Barbosa tinha justamente o potencial de angariar votos dos descontentes, não só da esquerda mas principalmente da direita, como os tucanos, que agora respiram mais aliviados com essa notícia. Muitos achavam que Joaquim Barbosa poderia roubar eleitores do ex-governador Geraldo Alckmin, que não conta com bons índices de intenções de votos. Mesmo que alguns pessebistas prefiram a candidatura própria, como é o caso do ex-deputado Beto Albuquerque, dirigente do PSB, para Carlos Siqueira, está hipótese não está sendo aventada.
“Candidatura própria eu não cogito. Candidatura não é coisa que se improvise. O mais provável é que discutamos apoiar o candidato que tem maior proximidade com PSB”, afirmou. O partido já recebeu propostas de alianças de diversos partidos que já têm candidatos próprios entre eles o PT, PCdoB, PDT e Rede. O tema vai ser discutido pela a Executiva Nacional que ainda vai se reunir. "Vamos deixar a poeira baixar e chamar a Executiva para discutir o assunto”, disse.
No cenário atual, as chances de uma coligação com o PDT de Ciro Gomes é considerada a mais plausível por integrantes do PSB e analistas políticos. Não só pela identidade programática, mas principalmente porque facilita as alianças regionais, consideradas prioritárias não só para a eleição e reeleição de governadores, mas também para impulsionar a bancada do PSB na Câmara. Esses dois critérios vão ser pesados na hora da decisão sobre quem a legenda vai apoiar. “E o Ciro está escolado. Com duas campanhas presidenciais e indo para a terceira, ele saber fazer o jogo”, afirma o analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa.
Candidatos nos estados São os casos, por exemplo, de Pernambuco, governado por Paulo Câmara (PSB) e do Espírito Santo, onde o ex-governador Renato Casagrande (PSB) voltará se candidatar ao governo estado, e as conversas com o PDT já estão em andamento. Um dos únicos problemas apontados, mas passível de resolução é o cenário do Amapá, onde o governado Valdez Góis (PDT) tentará se reeleger e o senador Capiberibe é o candidato pelo PSB. Para André César, a campanha deste ano vai ser fragmentada em que o vencedor vai ganhar por “default”. “Caiu um, caiu mais um e o Ciro vai ficando. Ciro não vai sair (da campanha)”, observa.
Risco de um racha profundo
Vice na chapa encabeçada por Marina Silva em 2014 e atual vice-presidente de Relações Governamentais do PSB, o ex-deputado Beto Albuquerque enxerga o risco de um racha profundo na legenda, caso o projeto de uma candidatura própria ao Palácio do Planalto seja de fato abandonado. Reconhecendo que o partido foi surpreendido pela desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa de concorrer, Ele ressaltou que o apoio a qualquer um dos nomes hoje colocados para a corrida presidencial seria prejudicial para o conjunto do partido. Para Beto Albuquerque, “seja Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva ou qualquer nome hoje colocado, o PSB ganharia de um lado e perderia do outro”. Ele diz que seu partido precisa de uma solução que não atrapalhe os 10 candidatos nos Estados”. “Infelizmente, não temos outro Joaquim Barbosa na manga, não temos outro Eduardo Campos. Mas é essencial que encontremos uma maneira de manter uma candidatura própria”, disse o exdeputadoe à Agência Estado.
A disputa interna do PSB passa em especial pelo alinhamento de diretórios regionais ao governador de São Paulo e candidato à reeleição, Márcio França, e ao comando do partido em Pernambuco.