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Filósofa americana Judith Butler é alvo de protestos no Aeroporto de Congonhas

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A filósofa norte-americana Judith Butler foi alvo de agressão verbal, protestos e perseguição de manifestantes nesta sexta-feira (10), na área de check-in do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando embarcava para os Estados Unidos. Seguranças do aeroporto tiveram que intervir para evitar uma agressão física.

Referência mundial nos estudos da teoria de gênero, Judith Butler chegou ao Brasil na última terça-feira (7) para o debate 'Os Fins da Democracia', no Sesc Pompéia, na Zona Oeste de São Paulo, em evento organizado pela USP (Universidade de São Paulo) em conjunto com a Universidade de Berkeley, onde a filósofa leciona.

Protestos

Durante a passagem de Butler pelo Brasil, alguns movimentos de direita convocaram atos contra a presença da filósofa devido a suas ideias a respeito do feminismo e identidade de gênero. Um boneco que retratava a professora como uma bruxa de sutiã à mostra foi queimado ao fim do ato na terça-feira (7). Cartazes e faixas falavam sobre temas diversos, a maior parte condenando o que os participantes chamam de “ideologia de gênero”, mas também havia frases com pedidos de intervenção militar e atacando figuras como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Os participantes usavam megafones e caixas de som para gritar palavras de ordem.

Identidade de gênero e direitos LGBT

“A gente não está aqui pelo tema da palestra, a gente está aqui porque a Judith Butler é uma propagadora da ideologia de gênero, uma das principais criadoras e a que mais propaga isso aí”, disse o advogado Heverton Sodario, de 24 anos. “Não é contra as pessoas que são homossexuais ou contra o homem que quer se vestir de mulher. É contra uma ideologia que está sendo pregada às crianças, tentando dizer que mesmo que você nasça homem ou mulher, você pode ter um gênero diferente de isso aí. É um absurdo”, acrescentou. 

Do outro lado, os manifestantes se revezavam em microfone para defender a presença da filósofa, a liberdade de expressão e os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). “A vinda da Judith Butler representa mais um canal de pensarmos como toda a questão de gênero não pode ser uma afronta, tem que ser um reconhecimento da nossa existência”, disse a antropóloga Heloíse Fruchi. 

Ela disse se sentir amedrontada com o teor dos discursos feitos pelos manifestantes contrários a Butler. “Aqui a gente está totalmente armados com liberdade e respeito, enquanto tudo o que vem de lá afronta não só a minha existência, a minha liberdade de amar, mas o meio direito de estar aqui. É um calar a minha voz, ignorar o meu direito de viver. É muito assustador”, acrescentou. 

Ideias

A partir de uma ótica feminista, Butler tem reflexões sobre como as distinções entre os sexos são determinadas por interpretações culturais que se sobrepõe a determinantes biológicos. Ela também tem trabalhos com pensamentos sobre a violência e a respeito da situação do Estado de Israel. Esses últimos temas mais relacionados ao que seria tratado no evento.

Com a participação de palestrantes nacionais e estrangeiros, o seminário pretende abordar os limites e riscos às instituições democráticas no cenário político mundial.

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