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'Washington Post': Odebrecht exportou corrupção do Brasil para América Latina

Empresa está negociando acordos com Peru, Colômbia e Panamá

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Matéria publicada nesta quarta-feira (22) pelo Washington Post analisa que algumas das empresas mais emblemáticas do mundo se apresentam como marcas dos valores de sua nação - a Coca-Cola, por exemplo, ou Toyota, por excelência japonesa. E por um tempo, isso também foi verdade para o construtor brasileiro Odebrecht. De uma forma bem diferente da atual a Odebrecht enalteceu a imagem do Brasil durante a primeira década do milênio, quando o país conquistou a vitória para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, afirmando seu status como estrela em ascensão. 

Post lembra que com o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva promovendo a Odebrecht no exterior, a empresa conseguiu contratos estrangeiros lucrativos para construir rodovias, sistemas de transporte, estádios e usinas. Mas a outra exportação da Odebrecht foi a corrupção brasileira, que acabou se alastrando por toda a América Latina.

A empresa está hoje no centro do maior escândalo de corrupção do Brasil, com um esquema de US $ 2 bilhões, no qual cerca de 100 executivos e políticos foram presos e outros muitos investigados. O caso está se espalhando pela região, criando um teste para outros países contaminados pelo dinheiro sujo da Odebrecht. 

> > Washington Post How a scandal that started in Brazil is now roiling other Latin American countries

O diário norte-americano acrescenta que os promotores no Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares descobriram evidências que poderiam implicar presidentes atuais e antigos nas Américas por conduta criminosa. O caso, conhecido como "Lava Jato", foi um avanço para a independência judicial no Brasil, obtendo um amplo apoio público. 

Se isso vai levar a uma nova forma de conduta no meio político e empresarial em outros lugares tornou-se uma espécie de barômetro da boa governança em toda a América Latina, afirma o Washington Post. Até agora, houveram poucas prisões fora do Brasil, mas promotores em vários países da região estão pressionando para obter mais informações de pesquisadores brasileiros e ex-executivos da empresa.

"A escala do que a Odebrecht fez foi única, mas não é como o governo Lula ou a Odebrecht inventaram a corrupção na América Latina", disse o especialista brasileiro Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly. 

"O que foi único na Odebrecht foi o fato de que foram pegos." 

Em dezembro, a Odebrecht concordou em pagar uma multa de US$ 3,5 bilhões, o que seria o maior acordo estrangeiro da história do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que, juntamente com procuradores suíços e brasileiros, descobriu uma rede de 800 milhões de dólares em pelo menos 12 países, incluindo a América Latina e a África.

A empresa tinha uma filial secreta, a "Divisão de Operações Estruturadas", que administrava pagamentos através de contas nas Ilhas Virgens Britânicas e servidores ocultos na Suíça, funcionando "como um departamento de suborno autônomo", disseram os promotores.

Marcelo Odebrecht, ex-presidente executivo da empresa, foi condenado a 19 anos de prisão, e até agora, cerca de 80 executivos da Odebrecht aceitaram colaborar com a justiça em troca de sentenças mais indulgentes. 

O noticiário ressalta que a Odebrecht permanece no negócio, mas já perdeu quase um terço de seus 180 mil funcionários desde que o escândalo entrou em erupção e sua receita caiu 50%. Empresa assinou acordos de culpa nos Estados Unidos, Suíça e República Dominicana e está negociando acordos com o Peru, Colômbia e Panamá.

Embora possa parecer contra-intuitivo, disse Winter, os países mais abalados pelo escândalo até agora são aqueles cujos judiciários são fortes o suficiente para agir. No Peru, o ex-presidente Alejandro Toledo é acusado de receber mais de US $ 20 milhões em subornos da empresa, e o governo peruano acredita que ele está preso nos Estados Unidos.

Assim como a fúria no Brasil pelo escândalo da lava jato contribuiu para o impeachment de Dilma Rousseff, os latino-americanos em outros lugares também parecem fartos. Manifestantes marcharam pelo fim da corrupção no mês passado na República Dominicana, onde a Odebrecht supostamente pagou US$ 92 milhões em subornos, mas nenhuma acusação foi arquivada.

O principal promotor da Colômbia fez uma alegação explosiva neste mês: a Odebrecht canalizou US$ 1 milhão em doações ilegais para a campanha de reeleição do presidente Juan Manuel Santos em 2012, descreve o Post. Mas o ex-senador encarcerado que supostamente fez o pedido negou uma semana depois. No Panamá, 17 executivos e ex-funcionários foram acusados, e um ex-executivo da Odebrecht disse que pagou subornos aos filhos do ex-presidente Ricardo Martinelli. 

O sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, disse que o governo vai investigar, mas as únicas prisões que ele fez até agora foi a de jornalistas e ativistas que tentam varrer a lama, conclui Washington Post.