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São Paulo: usuários do Corujão da Saúde aprovam atendimento mas pedem melhorias

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Usuários do Corujão da Saúde, programa da prefeitura de São Paulo em funcionamento há um mês, aprovaram a ação. Eles pedem, no entanto, melhorias no projeto como a marcação de exames em locais mais próximos às suas residências e em horários com maior disponibilidade de transporte público. Os pacientes também reclamam da longa fila para conseguir marcar o retorno médico, após a realização de exames.

O objetivo do Corujão da Saúde é acabar, até meados de abril, com a fila de espera para a realização de exames médicos na rede pública de São Paulo. O programa conta com a parceria de hospitais privados que aceitaram realizar os procedimentos em horários ociosos da sua rede de atendimento – recebendo o valor da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).

Luiz Fernando de Paula, de 68 anos, conseguiu, após oito meses de espera, fazer uma tomografia computadorizada do tórax, a pedido do cardiologista. Luiz Fernando é safenado e foi chamado pelo programa Corujão para fazer o exame na madrugada de terça-feira (7) para quarta-feira (8), no hospital Oswaldo Cruz, nas proximidades da Avenida Paulista. Vindo da Lapa, na zona Oeste da capital, ele chegou ao local por volta das 23h45.

“Eu não conseguia agendar esse exame em lugar nenhum. Ficava esperando o aviso deles. Esse sistema para mim está positivo, mas se fosse mais cedo, em um local mais próximo, seria melhor. Apesar de não ser dificultoso, é desagradável. Poderia ser em um lugar mais perto da Lapa”, disse.

Fernando queixou-se também da próxima fila que terá de enfrentar. Com o resultado na mão, ele terá que esperar cerca de dois meses para voltar a ser avaliado pelo cardiologista. “Estou já na fila para poder agendar e normalmente demora. Não tenho certeza, mas normalmente tenho que esperar uns dois meses”, ressaltou.

Elton Renato dos Santos, de 42 anos, tenta descobrir há quase dois anos a origem de uma dor na região lateral do tórax. Ele passou por diversos hospitais públicos, mas só conseguiu fazer exames de radiografia e ultrassonografia, que não identificaram o motivo da dor. Por meio do programa Corujão, ele conseguiu fazer uma tomografia computadorizada no último dia 8.

“A última vez que eu passei no médico foi na UBS [Unidade Básica de Saúde] Reunidas, na Vila Industrial [zona Sul da capital]. Isso foi em 16 de janeiro. Hoje vou fazer o exame, mas depois demora para conseguir marcar o retorno. E com essa dor, eu tenho dificuldade para fazer as coisas. Estou desempregado”, disse. Santos também fez o exame no hospital Oswaldo Cruz.

Positivo mas paliativo

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Mário Scheffer, classificou o programa da prefeitura como positivo, mas ressaltou que seus efeitos são paliativos. Segundo ele, mais adequado seria aprimorar a atenção básica de saúde, para que uma demanda tão grande de exames não chegasse a ser gerada.

“Você está investindo sem atacar exatamente o problema. E atacar o problema é uma mudança estrutural na rede, na rede de saúde”, disse. “Agora, de todo jeito, está se aumentado a capacidade de exames, então, isso é positivo. Qualquer aumento da capacidade que se mostra insuficiente é positivo”, acrescentou.

Para Scheffer, o Corujão é um programa que utiliza, em escala maior, um procedimento comum na administração pública: a compra de serviços que estão em falta da rede privada. “O que está sendo feito é o que sempre foi feito: é uma compra adicional de serviço do setor privado”, destacou.

“E a maioria dos hospitais que participam, não estão de bonzinhos na história. Eles estão interessados em manter a filantropia, seu título de filantropia. Alguns deles estão interessados em estabelecer convênio para gerir serviço da prefeitura. Todos são organizações sociais, então é isso que está movendo neste momento essa parceria”, disse.

De acordo com o professor, a redução da fila para os exames poderia ter sido feita pela própria rede pública de saúde, desde que bem gerida. “Isso pode ser resolvido nos próprios hospitais públicos, a rede estadual, nos próprios equipamentos municipais. No nosso ponto de vista, eles são capazes de absorver, se bem geridos, se bem organizados, essa demanda, que nesse momento está se comprando [dos hospitais particulares]”.

O professor da USP ressalta que a atenção primária atualmente é pouco resolutiva, pouco integrada, e acaba não atendendo a necessidade dos pacientes adequadamente. “Em São Paulo tem várias organizações gerindo o serviço. Tem vários gestores na mesma rede pública. A rede municipal foi entregue para várias organizações sociais, cada uma cuida de uma região, cada uma tem uma política de organização nos serviços, de contratação de pessoal, de remuneração de médicos”, disse ele.

“Isso tem contribuído para gerar um sistema de saúde muito confuso, que produz essa peregrinação dos pacientes. As pessoas tem dificuldades para receber o encaminhamento, a comunicação de um nível de um serviço com outro é ruim”, avaliou.